Segundo a delegada responsável pelo caso, Bárbara Lomba, titular da Delegacia de Atendimento à Mulher de São João de Meriti, as imagens mostram o médico em ato de sexo oral com a mulher desacordada por cerca de 10 minutos, enquanto a equipe faz a cirurgia, separada apenas pelo lençol azul, chamado de campo cirúrgico, colocado para isolar o local da cirurgia da parte superior do corpo da parturiente, impedindo contaminações. “Foi estarrecedor ver as ações do investigado no vídeo. Nós aqui que temos uma certa experiência com atrocidades, com condutas muito graves, violentas, estamos há 21 anos trabalhando com crimes, nós ficamos estarrecidos, é inacreditável o que vimos, é gravíssimo. Ainda mais grave porque é um profissional que deveria estar cuidando do paciente, o paciente está nas mãos daquele profissional, totalmente vulnerável, num momento realmente importante da vida, tendo um filho, dentro do Hospital da Mulher, que é um centro de atendimento específico para mulheres”, disse a delegada.
Cena testemunhada
A delegada explicou que, na cirurgia anterior, uma
integrante da equipe de enfermagem precisou verificar um bisturi e testemunhou
a cena.
E acrescentou: “ontem, no dia 10, foram três cirurgias. Na segunda cirurgia
houve um problema com o bisturi e ela [a integrante da equipe] teve que verificar
que problema era aquele e, então, se deparou com o médico com o pênis exposto.
Mas manteve a calma, como se não tivesse visto, e eles, para não ficar numa
situação de uma pessoa só relatando, decidiram, em conjunto, tentar registrar
imagens, tentar documentar as ações do investigado na outra cirurgia”.
Após a filmagem, a equipe comunicou a diretoria do hospital, que acionou a
Polícia Civil. O médico foi preso em flagrante e será encaminhado para a
audiência de custódia. Segundo a delegada, ele preferiu não se manifestar. O
nome do médico preso não foi divulgado.
“O investigado não quis prestar declarações na sede policial, foi assistido por
advogado e, orientado, preferiu não prestar declarações na delegacia, prestará
em juízo. O tempo todo parecendo conformado, não demonstrou muita surpresa, não
demonstrou arrependimento, não negou e não confessou, simplesmente acatando
todos os procedimentos aqui da delegacia sem nada falar”, revelou a policial.
O médico foi indiciado e preso em flagrante por estupro de vulnerável, por
conta da impossibilidade de defesa da vítima, crime que tem pena de oito a 15
anos de reclusão. A delegada disse, ainda, que já requisitou documentos ao
hospital para verificar que remédios foram ministrados em outras pacientes
atendidas pelo médico e se havia ou não a real necessidade de sedação nos
casos.
Repúdio
Em nota, a Fundação Saúde do Estado do Rio de Janeiro e a
Secretaria de Estado de Saúde (SES) repudiaram “veementemente” a conduta do
médico anestesista e se colocaram à disposição da polícia para colaborar com a
investigação.
“Informamos que será aberta uma sindicância interna para tomar as medidas
administrativas, além de notificação ao Conselho Regional de Medicina do Estado
do Rio de Janeiro (Cremerj). A equipe do Hospital da Mulher está prestando todo
apoio à vítima e sua família. Esse comportamento, além de merecer nosso
repúdio, constitui-se em crime, que deve ser punido de acordo com a legislação
em vigor”, informou a nota.
O presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro,
Clovis Munhoz, informou, em nota, que já abriu investigação sobre o caso e
poderá cassar a licença do médico.
“O Cremerj informa que recebeu as denúncias e abriu um procedimento cautelar
para suspensão imediata do médico dada a gravidade das imagens. O Cremerj
instaurará, após o procedimento cautelar, um processo disciplinar de cassação”.
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