Segundo “La Repubblica”, Bento XVI teria decidido deixar o cargo no dia
em que recebeu o dossiê do Vatileaks.
Oficialmente,
o desgaste físico e espiritual pesou sobre os 85 anos de Bento XVI. E um dossiê
de quase 300 páginas, dividido em dois volumes encadernados com couro vermelho,
sepultou de vez o pontificado dele, sustentou nesta quinta-feira o jornal
italiano “La Repubblica”. O documento foi compilado por três cardeais a pedido
do próprio Papa, durante nove meses, após o escândalo do roubo de documentos
secretos do Pontífice, conhecido como VatiLeaks. As páginas proporcionaram
leitura detalhada de dezenas de capítulos sobre corrupção, promiscuidade,
mapeamento de uma rede de prostituição homossexual dentro do Vaticano e desvio
de dinheiro. E transformaram-se no argumento definitivo para uma renúncia
considerada há tempos pelo Pontífice alemão.
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Este documento será entregue ao próximo Papa, que deverá ser bastante forte,
jovem e santo para poder enfrentar o trabalho que o espera - teria reagido
Bento XVI, segundo o “La Repubblica”.
As
investigações internas acerca do VatiLeaks se estenderam entre abril e
dezembro, e o Papa era informado semanalmente do andamento do inquérito. No dia
17 de dezembro, ele recebeu o dossiê completo, de conclusões “devastadoras”,
segundo o jornal.
O
espanhol Julián Herranz, o italiano Salvatore De Giorgi e o eslovaco Josef
Tomko formaram o trio de investigadores eleito por Bento XVI.
Todos
são cardeais veteranos, velhos conhecedores da Cúria, com mais de 80 anos de
idade. Principalmente Tomko: aos 88 anos, foi o diretor do serviço de
contraespionagem do Vaticano no papado de João Paulo II.
Rede de lobby
gay entre sacerdotes
Entre
os malfeitos que mais assombraram o Papa está a rede de prostituição de jovens
seminaristas descoberta em 2010. No alvo da investigação, Angelo Balducci,
presidente do Conselho Nacional Italiano de Obras Públicas, cujo telefone foi
grampeado por suspeita de corrupção.
De
acordo com o “La Repubblica”, descobriu-se, então, que frequentemente ele
conversava com o nigeriano Chinedu Thiomas Eheim, membro do coro da Reverenda
Capela Musical da Sacrossanta Basílica de São Pedro. Ele seria o agenciador de
encontros que aconteciam numa casa fora de Roma, numa sauna, em um centro
estético e até no próprio Vaticano, além de uma residência universitária na
capital italiana onde vivia Marco Simeon, um jovem de 33 anos alçado a diretor
da TV Rai Vaticano.
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Só digo que ele tem dois metros de altura, pesa 97 quilos, tem 33 anos e é
completamente ativo - disse o nigeriano a Balducci, numa das ligações
interceptadas.
O
jornal italiano menciona, ainda, a possível existência de um “lobby gay” dentro
do Vaticano, “uma rede transversal unida pela orientação sexual”.
Ao
revelar ao Papa o caso em 9 de outubro passado, teria sido a primeira vez que a
palavra “homossexualidade” fora pronunciada livremente, em voz alta, no
apartamento de Bento XVI. Dois dias depois, num discurso a jovens da Ação
Católica sobre o Concílio Vaticano II, o Papa fez uma espécie de desabafo.
Mencionou que havia a certeza “de que viria uma nova primavera para a Igreja”,
mas que, com o tempo, aprende-se “que a fragilidade humana está presente também
na Igreja”.
O
latim aparece no dossiê para falar de impropriam influentiam, influências
impróprias e externas. Um fonte próxima aos três cardeais-investigadores
explicou que Bento XVI decidiu renunciar com esse material sobre a mesa.
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Tudo gira em torno do cumprimento do sexto e do sétimo mandamentos - garantiu a
fonte, referindo-se a “Não cometerás atos impuros” e “Não furtarás”.
Às
vésperas de um conclave atípico e repleto de dúvidas sobre o futuro do Papa
demissionário, não faltam interpretações dos últimos discursos de Bento XVI,
onde se destacaram menções enigmáticas sobre “divisões que deturpam a face da
Igreja” e pedem renovação.
Ontem,
o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, não quis alimentar as polêmicas:
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Não espere comentários, desmentidos ou confirmações do que é dito sobre este
tema. A comissão fez seu trabalho e entregou seu relatório nas mãos do Santo
Padre como deveria ter feito.
Fonte:
O Globo
Santa Sé
nega que escândalo do Vatileaks seja motivo da renúncia do papa
Em matéria assinada por Giacomo
Galeazzi, o jornal italiano La Stampa indaga se o informe sobre o chamado
escândalo 'Vatileaks' será levado a público pela comissão encarregada de analisar
as denúncias sobre uma suposta trama de corrupção, sexo e tráfico de
influências no Vaticano. Segundo o jornal, sabe-se apenas que o papa agradecerá
aos cardeais Julián Herranz, Jozef Tomko e Salvatore De Giorgi pelo seu
trabalho. Por outro lado, a Santa Sé nega que o escândalo seja o motivo da
renúncia de Bento XVI.
O La Stampa diz que o papa deve se
reunir no início da próxima semana com os três cardeais da comissão de
investigação sobre o caso 'Vatileaks' e pode suspender o decreto pontifício que
pesa sobre o informe dos cardeais para que seja examinado na reunião do
conclave que escolherá o sucessor de Bento XVI.
O documento elaborado pelos três
cardeais que investigaram o caso confirma o que Bento XVI denunciou na famosa
meditação de Sexta-feira Santa de 2005.
Sobre a denúncia feita pelo papa na
quarta-feira de cinzas sobre a desfiguração da Igreja, o cardeal Herranz disse:
"Claro, as divisões existem e sempre existirão, assim como as violentas
contraposições de linhas ideológicas". Segundo Herranz, o novo pontífice
terá que seguir a linha traçada por seus antecessores: dar a conhecer o Cristo,
ensinar a amar a Cristo e evangelizar.
Nesta quinta-feira, o jornal La
Repubblica afirmou que o papa Bento XVI decidiu renunciar após ter recebido um
"informe ultrassecreto", elaborado pelos três cardeais, em que é
denunciada uma suposta trama de corrupção, sexo e tráfico de influências no
Vaticano.
De acordo com o jornal, em uma
reportagem assinada pela jornalista Concita di Gregorio, o relatório que foi
encomendado por Bento XVI a três cardeais no ano passado - o espanhol Julián
Herranz, o eslovaco Jozef Tomko e o italiano Salvatore De Giorgi -, após
vazamentos de documentos confidenciais em um escândalo que ficou conhecido como
VatiLeaks, revela um sistema de "chantagens" internas baseado em
fraquezas sexuais e ambições pessoais no clero.
O texto de 300 páginas, que se
refere a um suposto "lobby gay" dentro do Vaticano, foi entregue em
dezembro ao pontífice, segundo a jornalista, que não esclarece como teve acesso
ao documento.
"Fantasias, invenções,
opiniões", retrucou o porta-voz do Vaticano, o padre Federico Lombardi,
após advertir que não comentaria a reportagem e dizer que os cardeais citados
não aceitarão conceder entrevistas.
Com o título "Não fornicarás,
nem roubarás, os mandamentos violados no informe que sacudiram o papa", o
jornal sustenta que o ancião cardeal espanhol Herranz, da ordem Opus Dei,
ilustrou ao papa no dia 9 de outubro do ano passado, os "assuntos mais
escabrosos" do relatório, em particular a existência de uma "rede
transversal unida pela orientação sexual".
"Pela primeira vez a palavra
homossexualidade foi pronunciada no gabinete papal", relata a jornalista.
O "La Repubblica" sustenta
que, durante oito meses, os cardeais interrogaram muitos prelados e laicos,
dividindo-os por congregação e nacionalidade, e estabeleceram que existem
vários grupos de pressão dentro do Vaticano, entre eles um sujeito a chantagem,
a "impropriam influentiam", por sua homossexualidade.
Outro grupo é especializado em
montar e desmontar carreiras dentro da hierarquia vaticana e outro ainda
aproveita para usar recursos multimilionários para seus próprios interesses à
sombra da cúpula de São Pedro através do Banco do Vaticano, segundo a
publicação.