Quase um mês após o primeiro caso confirmado, cientistas
seguem sem saber por que o número de infectados cresce tão rápido e como há
pessoas doentes em lugares tão diferentes
Desde o dia 6 de maio, o mundo tem lidado com um surto
global de varíola do macaco, que começou na Europa e hoje já há infectados em
quase 30 países.
Teoricamente, essa doença não causaria tanta preocupação nos pesquisadores, uma
vez que ela é altamente conhecida. Surgiu nos macacos em 1958, e o primeiro
caso em humanos foi em 1970. Além disso, a transmissão sempre foi considerada
difícil pelos especialistas.
Mas o crescimento exponencial de infectados e o aparecimento em lugares
teoricamente sem conexão mudou essa história, e alguns pontos intrigam a
comunidade científica
A infecção pelo vírus da varíola do macaco pode ocorrer pelo
contato com animais ou entre pessoas. Sempre esteve associada a viagens aos
países africanos onde a doença é endêmica (acontece frequentemente). Além
disso, nos surtos anteriores, os infectados se concentravam e rapidamente
sumiam. Uma das hipóteses levantadas é que o vírus tenha sofrido mutações, que
facilitariam a transmissão entre humanos.
De acordo com os primeiros resultados de análise genômica, houve mais de 47
alterações no DNA do vírus, mas ainda não é possível afirmar que ele está
mais patogênico ou mais transmissível. Não se sabe, por exemplo, há quanto
tempo o vírus atual está circulando entre humanos.
A varíola do macaco é transmitida por relação sexual?
Segundo as agências de saúde dos países que têm casos registrados, a maioria
dos infectados são homens que fazem sexo com homens. Por isso, pesquisadores
investigam se algo mudou na transmissão do vírus, que sempre foi por contato
próximo, principalmente com a pele, ou com secreções, como saliva.
"Não é possível saber se é uma doença transmitida por meio do sêmen, não
há comprovação. O que aconteceu é que os primeiros casos na Europa foram
registrados em homens que tinham como link epidemiológico o fato de serem
homens que fazem sexo com homens. Mas isso não se deve ao fato que o vírus está
sendo transmitido sexualmente, igual ao HIV.
Provavelmente, eles tiveram pontos convergentes de exposição, por exemplo, um
aplicativo de encontro. O vírus vai passando por meio dessas redes, ou festas,
encontros em massa. O vírus conseguiu pegar uma cadeia de muita sorte e foi por
essa rota de homens que fazem sexo com homens", explicou Giliane Trindade,
virologista da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais)
Os casos dos diferentes países têm a mesma origem?
O fato de a doença ser detectada em pessoas sem conexão sugere que o vírus pode
estar se espalhando silenciosamente. A epidemiologista do CDC (Centro para
Prevenção e Controle de Doença) dos Estados Unidos Andrea McCollum considera
“profundamente preocupante”.
Essa resposta só será possível descobrir a partir das análises genômicas.
"As análises até agora comprovam que o surto nos diferentes países
partiram de uma única 'reintrodução' na espécie humana", afirma Camila
Malta, pesquisadora do Laboratório de Investigação Médica do Hospital das
Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e do
Instituto de Medicina Tropical
Os casos dos diferentes países têm a mesma origem?
O fato de a doença ser detectada em pessoas sem conexão sugere que o vírus pode
estar se espalhando silenciosamente. A epidemiologista do CDC (Centro para
Prevenção e Controle de Doença) dos Estados Unidos Andrea McCollum considera
“profundamente preocupante”.
Essa resposta só será possível descobrir a partir das análises genômicas.
"As análises até agora comprovam que o surto nos diferentes países
partiram de uma única 'reintrodução' na espécie humana", afirma Camila
Malta, pesquisadora do Laboratório de Investigação Médica do Hospital das
Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e do
Instituto de Medicina Tropical
Vai ser necessário vacinar toda a população?
Por ora, a OMS acredita que a vacinação pode ser localizada e indicada para
pessoas próximas às infectadas, como está sendo feito no Reino Unido e nos
Estados Unidos. Profissionais de saúde da linha de frente também podem ser
beneficiados com o imunizante.
Existe uma vacina contra a varíola do macaco produzida pelo laboratório
Bavarian Nordic, na Dinamarca. Além disso, a vacina usada anteriormente poderia
ser usada, mas precisaria passar por atualização. A questão é que não há
produção em larga escala de nenhum imunizante.
A epidemiologista Andrea McCollum do CDC disse, em entrevista à revista Nature,
acreditar que as terapias provavelmente não serão implantadas em grande escala
para combater a varíola. Deve ser usado o método chamado vacinação em anel para
conter a propagação do vírus. Aplica-se o imunizante nos contatos próximos de
pessoas que foram infectadas para cortar quaisquer rotas de transmissão. “Mesmo
em áreas onde a varíola [do macaco] ocorre todos os dias, ainda é uma infecção
relativamente rara”, afirmou a especialista.
É possível a reinfecção da doença?
Por ser até então uma doença rara, ainda não é possível saber se há casos de
reinfecção ou se as pessoas que já pegaram outros tipos de varíola estão imunes
à doença.
"Não se sabe se a doença pode ser pega mais de uma vez. O que se sabe é
que a imunidade gerada pela doença ou pela vacinação é uma imunidade protetora
e que dura um longo período de tempo. Até porque, se não fosse assim, a varíola
não teria sido erradicada", ressalta Giliane Trindade.
Fonte: R7
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