O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por
meio da 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Territorial Área Botafogo
e Copacabana, obteve, no dia 06 de setembro de 2022, a decretação da prisão preventiva
de Sabine Boghici e outros cinco integrantes da quadrilha de falsas videntes,
que aplicaran um golpe milionário, estimado em mais de R$ 725 milhões, na
própria mãe, Geneviève Boghici, de 82 anos. A denúncia foi apresentada na mesma
data, com base no Inquérito Policial nº 930-00209/2022. A 23ª Vara
Criminal deferiu os pedidos do MP fluminense e, além da conversão da prisão
temporária em preventiva, decretou a quebra do sigilo telefônico dos aparelhos
aprendidos para localizar e reaver bens subtraídos da idosa, bem como o
sequestro de bens imóveis e móveis pertencentes aos denunciados, que tenham
sido adquiridos com o dinheiro subtraído da vítima. Os denunciados haviam sido
presos pela Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa de Terceira Idade em 10/08,
na "Operação Sol Poente".
Relata a denúncia que o golpe teria sido elaborado por Sabine com a ajuda da
mulher, Rosa Stanesco - conhecida por Mãe Valéria de Oxóssi -, e contou com o
auxílio de parte da família desta. Entre 2020 e 2021, a idosa foi convencida
pelo grupo de que a vida de sua filha, a denunciada Sabine, estava em perigo e
que, por isso, seria necessário um trabalho espiritual para salvá-la.
Impressionada, a idosa acabou lesada, tendo realizado oito transferências
bancárias para pagar pelo suposto serviço espiritual. Cabe ressaltar que
própria filha passou informações pessoais sobre a família para demais
integrantes da quadrilha, de forma a dar credibilidade às abordagens feitas
junto à idosa, quando as falsas videntes, munidas de detalhes sobre a vida
pessoal da vítima, davam conta do suposto risco a que estaria exposta sua
filha, mentora do golpe. A ação criminosa foi complementada ainda, em sua
última e mais recente fase, com a venda de bens da idosa, como joias, e obras
de arte da herança do colecionador e marchand Jean Bochici que, casado com
Geneviève, faleceu em 2015, e cujo espólio está em disputa na Justiça.
Assim, além de atriz Sabine Boghici, foram denunciados, e tiveram a prisão
preventiva decretada: Rosa Stanesco Nicolau (a “Mãe Valéria de Oxóssi”, e
namorada da filha da vítima); Gabriel Nicolau Traslaviña Hafliger (filho de
Rosa); Diana Rosa Aparecida Stanesco Vuletic (meia-irmã de Rosa); Jacqueline
Stanescos (prima de Rosa e Diana); e Slavko Vuletic (pai de Diana e padrasto da
Rosa), em cuja conta foram feitos diversos depósitos dos valores subtraídos da
vítima. Rosa foi uma das falsas videntes que disseram que a filha da idosa iria
morrer, mas que poderia se livrar do mal se sua mãe fizesse um trabalho
espiritual, realizado ao custo de vultosas transferências de dinheiro. Durante
a pandemia de Covid-19, a idosa passou a ser mantida em cárcere privado, em seu
apartamento na Avenida Atlântica, em Copacabana, sob grave ameaça e violência,
consistente em agressões físicas e com maus-tratos, como privação de
alimentação, isolamento e empurrões. A fase final do golpe compreendeu o roubo
e a venda de quadros famosos, de autores como Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti,
Rubens Gerchman e Cícero Dias.
Pelos fatos narrados, os denunciados responderão na Justiça pelos crimes de
associação criminosa, estelionato (dez vezes); extorsão mediante ameaça (39);
roubo (40); e cárcere privado.
Por MPRJ
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