A imprensa francesa dá amplo destaque ao início oficial da
campanha eleitoral no Brasil. Reportagens nas rádios, em canais de TV, jornais
e sites de informação analisam principalmente a disputa à presidência,
focalizada entre o ex-presidente Lula, que tenta voltar ao poder, e Jair
Bolsonaro, disposto a conquistar um novo mandato.
Para o jornal Le Monde, "Lula entra em campanha para tirar Bolsonaro
da presidência". O petista, que disputa o cargo pela sexta vez, faz uma
campanha de centro, na esperança de vencer o candidato da extrema
direita, que ainda é muito "popular entre os evangélicos", afirma a
publicação.
A agência AFP apresenta o petista como uma fênix, o pássaro lendário
da mitologia grega que morre, mas depois de algum tempo renasce das
próprias cinzas. "Lula ainda é visto como 'próximo ao povo' e é muito
querido, principalmente em áreas pobres do Nordeste", escreve a agência de
notícias. "Mas também é ferozmente odiado por alguns brasileiros para quem
ele é a encarnação da corrupção. Foi sobre o ódio ao PT que Jair Bolsonaro foi
eleito em 2018", recorda a AFP.
O site da corretora de valores Bourse Direct afirma que após um mandato de
quatro anos, marcado por crises sucessivas, "Bolsonaro não perdeu o gosto
pela provocação". O texto recorda que ele foi eleito em 2018 com o apoio
de lobbies poderosos, entre estes o dos evangélicos e do agronegócio. Desta
vez, embora atrás de Lula nas pesquisas de intenção de voto, o líder da extrema direita busca a reeleição com um amplo
programa de ajuda social, informa essa mídia especializada no mercado
financeiro.
Lula enfrenta concorrência no segmento popular - O site de jornalismo
investigativo Médiapart publica uma reportagem realizada em Natal e
Caetés, no Nordeste, explicando por que Lula permanece uma força política
"incontestável" no Brasil. "O ex-chefe de Estado brasileiro, de
76 anos, continua sendo a figura central do Partido dos Trabalhadores e de todo
o campo progressista. Esta hegemonia se deve a sua carreira, suas políticas
sociais, mas também à preservação das práticas políticas do país", escreve
o repórter Jean-Mathieu Albertini.
Pela primeira vez, no entanto, Lula não é mais o único candidato que se
diferencia da elite política dominante. "Embora Bolsonaro não tenha
experimentado a mesma miséria, ele vem de um passado pobre e de uma região
negligenciada", relata o jornalista francês. Bolsonaro, "por meio de
sua maneira de falar e de uma estratégia de comunicação bem rodada, conseguiu
cultivar a imagem de um homem simples e autêntico entre parte da
população", explica. O fenômeno novo desta campanha é que Lula não está
sozinho neste nicho, assinala o cientista político André Singer, entrevistado
pelo Médiapart.
RFI
Nenhum comentário:
Postar um comentário