Uma casa diz muito sobre seu dono. A rotina atarefada e
dividida entre trabalho e cuidado com os filhos torna difícil manter os
ambientes organizados à perfeição — e um pouco de desordem é até aceitável.
Afinal, são muitas as responsabilidades que, em tempos de pandemia, estão sobre
os ombros de todos.
Mas, se a bagunça atrapalha o dia a dia, dificulta tarefas
simples, como cozinhar ou encontrar as chaves do carro, e começa a afetar o
humor, é hora de parar tudo e arrumar a casa. O incômodo da desorganização pode
se juntar a outros problemas e criar desconforto no relacionamento em família.
Então, mãos à obra! Dê uma geral na casa e aproveite para se desfazer de coisas
que já não fazem mais sentido e que só ocupam espaço.
O primeiro passo é identificar os ambientes de convivência
na casa. Para quem está em home office, a dica do arquiteto Gabriel dos Reis
Joia é organizar os espaços de trabalho e de convívio familiar de forma
simples, a partir da definição dos ambientes. Uma forma eficiente e barata de
se fazer isso é definir os cômodos com a pintura das paredes em cores
diferentes.
— Para que os ambientes fiquem mais agradáveis, uma sugestão
é utilizar caixas organizadoras e prateleiras decorativas. Quanto menos
interferências houver nos espaços, maior a sensação de amplitude e mais
confortáveis eles ficarão — sugere.
Os brinquedos das crianças têm um papel à parte na bagunça.
Espalhados por todos os cantos, dão a sensação de caos o dia inteiro.
Brinquedos devem ficar guardados nos quartos dos pequenos em armários ou baús e
não no chão ou sobre a cômoda, por exemplo. Quando o móvel estiver muito cheio,
quer dizer que está na hora de doar alguns brinquedos para ganhar mais espaço.
— As caixas ou módulos organizadores servem tanto para
guardar itens que não devem ficar expostos, como também para decorar os
ambientes — afirma Gabriel Joia, sugerindo ainda a colocação de vasos de
plantas, que têm efeito tranquilizador, principalmente nestes tempos em que as
pessoas passam tanto tempo dentro de casa.
Móveis versáteis
A arquiteta da Avanço Realizações Imobiliárias, Monique
Nunes, ressalta que, nas moradias alugadas, a personalização dos ambientes fica
mais engessada. Ela sugere que, nesses casos, os moradores lancem mão de móveis
mais versáteis e flexíveis, como prateleiras com suportes para vários nichos.
— Usar araras em substituição ao guarda-roupa deixa o
ambiente mais descolado e mais descontraído. Prateleiras na cozinha e na
lavanderia também facilitam muito a organização — comenta Monique.
Outra sugestão são as antigas chapeleiras, que ganharam
espaço nas decorações modernas, dando um toque "retrô" e charmoso aos
ambientes. Elas são ótimas para se pendurarem bolsas e lenços que, em geral,
são jogados sobre os sofás.
— Além de criar um ambiente bacana na entrada do imóvel, a
chapeleira desempenha ainda um papel organizador, evitando coisas espalhadas
pela casa.
Outro incômodo muito comum são os fios e cabos elétricos
espalhados pela casa, que não só causam uma sensação de bagunça como
representam perigo. Para esses casos, a indicação são os passa-fios, calhas de
plástico próprias para embutir a fiação, facilmente encontrados em lojas de
material de construção, ou o uso de painéis feitos sob medida ou vendidos em lojas
de decoração.
— Os painéis possibilitam a passagem da fiação elétrica por
trás, de maneira oculta e sem incomodar visualmente, e têm sido usados de forma
decorativa também — destaca Monique.
Quando a desorganização é um problema de saúde
A desorganização pode ser a causa ou consequência de
questões relacionadas a aspectos psicológicos ou a transtornos mentais, por
exemplo. Nesses casos, o indicado é buscar a ajuda de um profissional.
A psicóloga Carolina Farias da Silva Bernardo, especialista
em terapia cognitivo-comportamental, afirma que quem tem um quadro depressivo,
sem energia para fazer as coisas e sente muita tristeza e desânimo, pode não
conseguir arrumar a casa. Da mesma forma, quem tem transtorno de déficit de
atenção ou hiperatividade terá dificuldade de organizar e gerenciar ambientes e
tarefas.
— Há casos até mais graves, como os transtornos de
acumulação — diz ela, apontando situações em que a pessoa não tem espaço
suficiente para acomodar todos os objetos acumulados, deixando as áreas de convívio
tão lotadas e desorganizadas que fica impossível utilizá-las.
Diferentemente de colecionadores, a pessoa acumula coisas de
forma desorganizada e tem dificuldade de se desfazer de objetos de pouco valor.
O transtorno pode ser leve inicialmente, mas tende a piorar gradativamente
conforme a pessoa envelhece.
— Em um ambiente desorganizado, a chance de a pessoa ter
emoções agradáveis é muito baixa. Quando não há um senso de controle do
ambiente, a probabilidade de se ter engajamento para fazer as tarefas também é
quase nula. Por isso, muitas vezes a pessoa procrastina a organização dos
ambientes e vai empurrando as tarefas com a barriga — afirma Carolina.
Para Marcelo Abuchacra, psicólogo comportamental, a
desorganização está relacionada ao ambiente em que a pessoa foi criada — e ela
nem sempre se sente mal nesse ambiente de bagunça.
— A criança não nasce sabendo como organizar as coisas, isso
é um comportamento aprendido, o que chamamos de comportamento operante — diz
ele, acrescentando que, no Brasil, há quem preze viver no caos, diferentemente
do Japão, em que a organização do lar é uma questão cultural.
Para ele, o problema fica mais difícil de contornar quando
se divide o imóvel com outra pessoa que tenha ponto de vista diferente, pois
vai gerar conflitos, oscilação de humor, desequilíbrio emocional e
divergências.
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