Caminhoneiros em diferentes pontos do país agora estão
divididos em relação às manifestações agendadas por grupos bolsonaristas para o
dia 7 de setembro.
Para lideranças mais antigas da categoria, que comandaram
paralisações anteriores, os caminhoneiros precisam manter o foco e se
mobilizarem para fazer a defesa de seus pleitos, em especial a mudança na
política de preços de combustíveis e a defesa dos pisos mínimos para o frete bandeiras não contempladas, avaliam, pelo movimento em curso.
As manifestações na semana da pátria têm como metas apoiar o
presidente Jair Bolsonaro (sem partido), fazer oposição aos ministros do STF
(Supremo Tribunal Federal) e defender a volta do voto impresso.
Esse grupo argumenta que foi traído pelo agronegócio após a
grande paralisação em 2018 e não teria razões para apoiar fazendeiros e
pecuaristas, que estão entre incentivadores da mobilização e buscam a adesão
dos caminhoneiros. Mas mesmo essa parcela já admite que a decisão de participar
ou não vai acabar sendo individual, pois novos grupos de caminhoneiros têm
defendido a adesão por convicções políticas, rachando a categoria.
Entre esses novos manifestantes, que já confirmam sua
participação, a pauta mais econômica não existe ou se tornou difusa. Essa
parcela da categoria defende que aderir é um dever cívico.
Odilon Fonseca, de Confresa (MT), por exemplo, afirma que a
maioria dos caminhoneiros de sua região apoiam o protesto. Segundo ele, a ideia
é que as manifestações comecem a mobilização em 7 de setembro e sigam nos dias
seguintes. Ele diz que irá para Brasília de carro se manifestar, pedindo a
troca dos ministros do STF.
Fonseca afirma não reconhecer quem se diz líder da categoria
dos caminhoneiros autônomos e rejeita as pautas apontadas como prioritárias
para os caminhoneiros. Na sua avaliação, a tabela do frete, caso fosse adotada,
até iria prejudicar os caminhoneiros autônomos, que perderiam espaço para as
transportadoras de profissionais contratados.
Fonseca diz esperar apoio do agronegócio nas manifestações,
em especial na organização de acampamentos e alimentação de quem estiver em
Brasília.
O caminhoneiro Marinaldo Machado, por sua vez, diz estar
organizando a paralisação nas cidades de Ponta Grossa e Wenceslau Braz, no
Paraná. Conta que, além de caminhoneiros, há empresários e fazendeiros juntos
na greve.
Segundo Machado, o movimento acontecerá em todas as capitais
e em algumas cidades do interior. Nas estradas, deverão circular apenas
ambulância, caminhões com carga viva e rações, bem como automóveis pequenos.
O caminhoneiro diz que, no país, está confirmado o
fretamento de mais de 500 ônibus com destino a Brasília. O financiamento para
viagem é feito localmente, por vaquinhas, segundo ele.
Janderson Maçanero, caminhoneiro de Itajaí (SC) conhecido
como Patrola, diz que a pauta do dia 7 de setembro não tem mesmo relação com os
pedidos dos caminhoneiros, mas que, ainda assim, ele deve se manifestar.
"Acho que é necessária alguma movimentação no STF e a implantação do voto
auditável", afirma.
A adesão dos caminhoneiros ganhou nova abordagem após a
divulgação do vídeo com a convocação para os atos feita pelo cantor e
ex-deputado Sérgio Reis, que também têm apoio de parte do agronegócio.
Ao menos dois líderes caminhoneiros afirmam ter recebido
ligação de Antônio Galvan, presidente da Aprosoja Brasil (associação de
produtores de soja), pedindo apoio para as manifestações nos últimos meses.
A casa de Galvan foi alvo de busca e apreensão pela Polícia
Federal, após mandado expedido pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, a
pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República) que investiga a participação do
empresário no financiamento das manifestações.
Vários representantes, por outro lado, ainda tentam
dissociar os caminhoneiros do movimento. Marcelo da Paz (do grupo de
caminhoneiros que atua no Porto de Santos), Nelson de Carvalho Júnior (de Barra
Mansa, no Rio de Janeiro) e Wallace Landim, mais conhecido como Chorão, devem
se reunir em Brasília no dia 18 de setembro para debater as pautas da
categoria.
Eles dizem que a realização do encontro após a semana da
pátria mostra que não há vinculação do grupo com os atos políticos. Segundo
Marcelo da Paz, é possível que ali seja, de fato, deliberada uma paralisação
nacional.
Marconi França, líder do grupo em Pernambuco, diz ter
recebido o contato há cerca de três meses e ter negado o apoio argumentando que
a categoria é apartidária. "O que eles querem é dar um golpe na
democracia, e isso não vamos aceitar," diz França.
Ronaldo Lima, caminhoneiro do Mato Grosso, diz que a grande
paralisação de 2018 foi feita a partir da união dos caminhoneiros e do
agronegócio.
Porém, afirma, os caminhoneiros se sentiram traídos após a
greve porque os empresários entraram com uma ação no STF questionando a
constitucionalidade dos pisos mínimos de frete, uma das contrapartidas do
governo do então presidente Michel Temer para encerrar os protestos.
Lima afirma que uma paralisação seria interessante para a
categoria, mas desde que ela fosse discutida com todas as lideranças e
colocasse em pauta os pedidos do grupo, o que não estaria acontecendo na
manifestação do dia 7.
Em nota, a Aprosoja Brasil disse que não possui qualquer
ligação com os atos, não responde nem financia os atos e repudia qualquer
publicação que vincule a associação a movimentos violentos ou ilegais.
A reportagem tentou entrar em contato com Galvan, presidente
da entidade, mas não teve retorno.
Folhapress