“O Bispo deve guiar, que não é o mesmo que comandar”
Diante do Comitê da Coordenação da Celam (Conferências Espiscopais da América Latina e Caribe), Papa Francisco se dirigiu aos bispos da América Latina em um de seus últimos discursos nesta Jornada Mundial da Juventude. No início da cerimônia, Monsenhor Carlos Aguiar Retes, presidente da Celam, afirmou que “estamos em um momento crucial, os desafios da mudança de época que vivemos exige o replanejamento das atitudes, estruturas e atividades pastorais”. Para cumprir este objetivo, propôs “fazer do Documento de Aparecida uma realidade pastoral, começando em nossas próprias igrejas”.
Papa Francisco fundamentou seu discurso na essência da “Missão Continental”, conclusão da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, em 2007, e no significado do discipulado missionário, que está no lema da JMJ: “Ide e fazei discípulos em todas as nações (Mt. 28,19)”, e que é parte esencial da mensagem de Aparecida.
Papa destacou uma série de particularidades em Aparecida, cujo documento de conclusão chamou de “milagre”: “o que fizemos em Aparecida foi um milagre. Não só pelo que recebemos, mas por termos concluído o documento quando, três dias antes do fim, tínhamos várias versões”
Aparecida, nas palavras do Papa, se prolonga em compromisso, com a Missão Continental, uma missão que passa pelo “discipulado missionário” e traz, como desafios, a “renovação interna da Igreja e o diálogo com o mundo atual”.
Pautas eclesiológicas
Papa Francisco propôs algumas pautas eclesiológicas: o discipulado missionário, o perigo que a Igreja se transforme em uma ONG, a importância das atitudes pastorais, como a proximidade e o encontro e o perfil do trabalho do Bispo. “O discipulado missionário é o caminho que Deus quer para ‘hoje’. Toda projeção utópica (para o futuro) ou restauracionista (para o passado) não é do espírito bom. Deus é real e se manifesta no ‘hoje’”.
Continuando, o Papa sinalizou a importância de a Igreja sair às ruas “A Igreja é instituição, mas, quando se erige em ‘centro’, se funcionaliza e, pouco a pouco, se transforma em uma ONG. Então, a Igreja pretende ter luz própria e deixa de ser aquele “mysterium lunae” de que nos falavam os Santos Padres. Torna-se cada vez mais auto-referencial e enfraquece a sua necessidade de ser missionária. Aparecida quer uma Igreja Esposa, Mãe, Servidora, facilitadora da fé e não controladora da fé”.
Esta saída às ruas se traduz em “duas categorias pastorais que (...) podem servir de orientação para avaliar o modo como vivemos eclesialmente o discipulado missionário: a proximidade e o encontro”. Papa Francisco explicou que “a atividade pastoral é a Igreja ser mãe” e, às vezes, a Igreja é um pouco “madrasta”.
Como termômetro para avaliar o discipulado, Papa sugeriu a avaliação das homilias: “Uma pedra de toque para aferir a proximidade e a capacidade de encontro de uma pastoral é a homilia. Como são nossas homilias? Estão próximas do exemplo de Nosso Senhor, que ‘falava como quem tem autoridade’, ou são meramente prescritivas, distantes, abstratas?
O Papa dedicou especial atenção ao trabalho do Bispo. “O Bispo deve guiar, que não é o mesmo que comandar (…) Os Bispos devem ser Pastores, próximos das pessoas, pais e irmãos, com grande mansidão: pacientes e misericordiosos. Homens que amem a pobreza, quer a pobreza interior como liberdade diante do Senhor, quer a pobreza exterior como simplicidade e austeridade de vida. Homens que não tenham ‘psicologia de príncipes’. Homens que não sejam ambiciosos e que sejam esposos de uma Igreja sem viver na expectativa de outra. Homens capazes de vigiar sobre o rebanho que lhes foi confiado e cuidando de tudo que o mantém unido: vigiar sobre seu povo, atento a eventuais perigos que o ameacem, mas sobretudo para cuidar da esperança: que haja sol e luz nos corações. Homens capazes de sustentar com amor e paciência os passos de Deus em seu povo”.
Para finalizar, Papa acrescentou “incluindo-me a mim mesmo nesta afirmação, que estamos um pouco atrasados no que a Conversão Pastoral indica”, pedindo aos seus irmãos de episcopado para “tomar a sério a nossa vocação de servidores do povo santo e fiel de Deus, porque é nisso que se exerce e mostra a autoridade: na capacidade de serviço”.
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