É uma questão de valores morais e espirituais, defendidos
pela Igreja Católica. “Os jovens gostam muito de funk e de hip hop. Ontem, eles
usavam o hip hop para expressar a raiva, o ódio, a violência, e hoje eles estão
usando isso também para expressar valores que eles estão aprendendo conosco”,
diz o padre Renato Chiera.
Trocamos de música, de lugar e de padre, mas, para a Igreja
Católica, é a mesma questão: como transmitir valores. “Esta maneira de vestir,
que é uma maneira totalmente específica, que é uma maneira sertaneja, mas, ao
mesmo tempo, uma maneira jovem de se aproximar deles, e mostrar para eles que o
padre não é nenhum bicho do outro mundo“, afirma o padre Alessandro Campos.
O New York Times acaba de chamar o Brasil de laboratório
para reverter o declínio do catolicismo. Apenas 65% dos brasileiros dizem hoje
ser católicos, contra mais de 90% meio século atrás.
Faltou, diz um jovem candidato a padre, a força do exemplo.
“Falta de amor a Cristo, falta de uma noção de santidade e da busca de uma
santidade. No fundo, é uma falta de uma conversão nossa, dos próprios membros
da Igreja, quando nós nos convertamos, em dar à sociedade uma resposta bem
dada”, diz o seminarista Bruno Muta Vivas.
Como enfrentar o desafio é objeto de intensa discussão.
“Hoje, a Igreja Católica é uma igreja do terceiro mundo, que teve uma vez
origem no primeiro. Se nós não dermos esse apoio a essas igrejas emergentes,
que não são igrejas espelho de Roma, são igrejas-fonte. Se não dermos essa
chance, a Igreja desse estilo não terá futuro, as crises se repetirão, o poder
central será sempre um poder jurídico e não um poder moral, de animação, e
haverá uma imigração fantástica como está ocorrendo no mundo inteiro", diz
o teólogo Leonardo Boff.
A ideia de descentralizar a Igreja não passa por grupos
influentes dentro da instituição, como o Opus Dei. “Pode haver uma confusão
achando, ‘bom, o papa diz isso, mas a conferência de tal país diz aquilo, então
eu sigo quem?’. Em tese, o Opus Dei está sempre muito ligado ao papa, procura
estar unido ao papa, independentemente da origem do papa. Ele vê no papa o
sucessor de Pedro”, afirma Roberto Zanin, porta-voz da Opus Dei.
Qual é o papa, então, pelo qual os católicos tanto esperam?
“A Igreja espera realmente o papa que dê continuidade ao
trabalho do saudoso, do nosso papa emérito, e, com toda certeza, uma renovação,
que é o que o próprio papa pediu”, diz Campos.
“Eu pessoalmente espero um papa jovem, forte, um papa que
tenha no coração todos os dramas da humanidade, mas, sobretudo, também eu
gostaria que fosse um papa que escuta os jovens”, afirma Chiera.
Com quais ideias?
“Não era abrir as janelas da Igreja para que a Igreja se
mundanizasse, mas abrir as janelas da Igreja para um diálogo com o mundo, para
que a Igreja colocasse ao mundo soluções pertinentes aos tempos modernos.
Soluções essas, que a Igreja continua propondo, podem não ser as soluções que
muitos gostariam de ouvir”, afirma Zanin.
Um papa com menos autoridade?
“Roma e o papa será aquela referência de unidade, e ele
circulará como animador espiritual, mas não como doutrinador, uniformizador.
Como animador, como pastor, não como professor e um moralizador como foi Bento
XVI”, diz Boff.
E dá para juntar tantos perfis em um só, e, ainda por cima,
relativamente jovem?
“Acho que o critério que pesa mais é justamente o bem da
Igreja, quem pode ser hoje esse sinal visível hoje de unidade da fé. Se for um
latino-americano, vamos ficar felizes, evidentemente, mas ficaremos tão felizes
também caso o papa seja de um outro continente. Claro, quem não ficaria feliz
se houvesse um papa brasileiro?”, afirma Dom Raimundo Damasceno, arcebispo de
Aparecida/SP.
Mas conclaves são imprevisíveis, diz o veterano especialista
que já cobriu quatro.
“Geralmente, nos conclaves, contrariamente ao que se pensa,
os cardeais não chegam praticamente com um candidato, Não é assim. Normalmente,
eles primeiro falam dos problemas que a Igreja tem, e quem poderia pegar a
Igreja nesse momento, mas sem dizer o nome, até porque um cardeal uma vez me
falou: ‘você nunca pergunta a um cardeal quem poderia ser um bom candidato,
porque ele nunca vai falar, porque todo cardeal pensa que o melhor papa vai ser
ele’”, diz Juan Arias, jornalista do El País.
“Eu acho que seria muita pretensão um cardeal dizer ‘eu
estou preparado’”, afirmou Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, em 13 de
fevereiro.
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