Será que isso vem ocorrendo também em cidades do interior do Brasil, os idosos estão sendo monitorado e vigiados? É um caso a pensar, pois traz muitos riscos aos que residem próximos a eles como vizinhos e familiares. O melhor tratamento é no hospitais e não em casa.
Em
Manaus médicos a atestarem cinco mortes por covid-19 de pessoas que morreram em
suas próprias casas.
"Era
muita coisa. Antes disso, eu não costumava constatar nenhum óbito (doméstico)
no meu plantão, conta a médica, que pediu para não ser identificada. Em geral são
pessoas idosas, de 70, 80 anos. Esperam em casa mesmo, porque sabem que não teriam
assistência nos hospitais (superlotados). Tentam se medicar com tudo o que podem
em casa. Totalmente errado. “
Enquanto
a situação é dramática em boa parte da rede de saúde brasileira em meio à
pandemia, há pacientes como esses, em estado grave, que nem estão tendo a
chance de receber atendimento médico: estão morrendo fora dos hospitais, muitas
vezes de uma piora rápida e inesperada da covid-19 ou com medo de ir ao médico
e pegar a doença.
Quatro causas
prováveis
Desse
total, segundo as certidões de óbito, 80% das pessoas morreram de problemas não
relacionados à covid-19. Isso parece ser um indicativo de que pacientes com
outras enfermidades graves podem estar tendo menos acesso a tratamentos, uma
vez que quase todo o sistema de saúde está voltado ao controle da pandemia.
Pacientes
com covid-19 com quadro moderado, mas que pioraram repentinamente;
Pacientes
com doenças terminais que provavelmente morreriam em hospitais, mas, em meio à pandemia,
acabam temendo a hospitalização e ficam em casa;
Pacientes
com outros problemas médicos, desde sinais de mal-estar que podem ser de um
infarto até um AVC, por exemplo.
Com
medo de se infectar, esses pacientes estão evitando buscar atendimento médico e
perdendo acesso adequado ao serviço de saúde.
Nesse
último caso, os pacientes podem acabar morrendo não por causa do coronavírus em
si, mas como um efeito colateral da pandemia.
No Brasil não é que as pessoas estejam sendo
impedidas de ir ao médico, mas há menos exames de câncer e menos cirurgias
sendo feitos, e há evidências também de que as pessoas estão fazendo menos
consultas e evitando essas hipóteses o
epidemiologista Paulo Lotufo, professor de Clínica Médica da Faculdade de
Medicina da USP, soma os estragos que o novo coronavírus pode causar no corpo,
e que, em alguns casos, vão muito além do quadro gripal ou do comprometimento
pulmonar.
"A
gente inicialmente achava que o vírus causasse só uma gripe ou, nos casos mais
graves, uma pneumonia. Mas não é só isso. O vírus atua também no sistema
circulatório, elevando o risco de uma morte súbita em casa por doenças
cardíacas", explica o médico.
Outro
efeito "terrível", diz Lotufo, é que há casos em que o vírus "atua
no sistema nervoso central, fazendo com que o cérebro deixe de identificar a
baixa oxigenação do pulmão. Alguns pacientes relatam uma sensação de bem-estar
(respiratório) mesmo estando péssimos. Chega ao hospital com oxigenação muito
baixa, quadro em que normalmente estariam em coma, mas chegam
conversando".
O
sinal para se buscar atendimento
Com
tudo isso, para médicos que estão acompanhando o avanço da pandemia, uma
preocupação é justamente com essa repentina piora que alguns pacientes com
covid-19 em estágio moderado podem apresentar.
A
recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de que, na impossibilidade
de se hospitalizarem todos os pacientes da covid-19 por causa das limitações do
sistema de saúde, os que tenham sintomas leves (a ampla maioria) podem ficar em
casa, "desde que eles possam ser acompanhados e cuidados por membros da
família".
Não
é essa, no entanto, a realidade da maioria das pessoas, gerando preocupações de
que o quadro se agrave, mas passe despercebido de pacientes e cuidadores.
"Como
não há um monitoramento diário desses pacientes (por profissionais de saúde),
existe o risco de as coisas darem errado muito rapidamente", diz o médico
Bharat Pankhania, professor palestrante da Escola de Medicina da Universidade
de Exeter (Reino Unido), especializado em controle de doenças infecciosas.
O
principal sinal de alerta para pacientes e cuidadores, diz ele, é a sensação de
cansaço extremo ao fazer atividades cotidianas, além da falta de ar e letargia.
"É o sinal de que o paciente precisa de suplemento de oxigênio."
É
preciso chegar ao médico antes que uma pneumonia viral se instale, diz ele,
"porque se ele já tiver a pneumonia, também já pode ser muito tarde".
Para
a médica de Manaus pessoas com sintomas
persistentes de covid-19 (alguns dias de febre, tosse e dores de cabeça e no
corpo) devem buscar atendimento médico, mesmo antes de bater a sensação forte
de cansaço. Sobretudo se elas forem pessoas dos grupos de risco, como idosos,
obesos, fumantes e pessoas com comorbidades.
"Essas
pessoas não podem esperar em casa, porque a piora é muito rápida", diz
ela.
Um
levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica e da Sociedade
Brasileira de Patologia aponta que ao menos 50 mil brasileiros podem ter ficado
sem diagnóstico de câncer entre os meses
de março e maio, já que menos exames estão sendo realizados.
O
levantamento calcula uma queda de 50% a 90% na realização de diferentes tipos
de biópsias. Com o diagnóstico tardio ou inexistente, o risco é de que tumores
avancem, não detectados, para o estágio avançado.
Os
mais pobres os que têm mais chances de morrer em casa.São eles que têm de
perseverar mais, sair para trabalhar e acabam
enfrentando aglomerações. As pessoas mais ricas têm a quem chamar e têm
mais chances de serem observadas (por médicos). Com tudo isso junto, a covid-19
é uma espécie de eliminadora de pessoas pobres, porque as afeta de modo muito
desproporcional.
Os
casos ainda são muito graves, mas estão diminuindo.
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