"Na Bíblia, Jesus fala que o jejum deixa as pessoas mais inspiradas’’, lembra Padre Marcelo Rossi, ao comentar que passou por um período de restrição alimentar enquanto compunha as canções de "O tempo de Deus’’, CD que ele lança essa semana. O regime severo, no entanto, foi além da motivação criativa, chegando à anorexia. Por só se alimentar de alface e hambúrguer num período de depressão, o homenzarrão de 1,95m de altura foi dos 128kg aos 60kg, no fim do ano passado. Mas apesar de ainda despertar intenso burburinho pela magreza — sua presença no Círio de Nazaré, em Belém do Pará, no último dia 12, causou verdadeira comoção nas redes sociais — ele garante que a saúde está 100%.
— Estou de volta aos meus 80 e poucos quilos, que é o meu peso normal. Mas como as pessoas me viram muito inchado durante meses, estranham. Chegaram a dizer que eu estava com câncer, meu Deus! Até a minha mãe estranhou. Já voltei a ter uma dieta equilibrada, pratico a minha caminhada e a minha corrida na esteira diariamente, estou muito bem — afirma Padre Marcelo, que não teve acompanhamento médico durante o restabelecimento: — A oração foi a minha salvação. Também não usei remédio antidepressivo, só minha conexão com Deus.
A depressão foi desencadeada por um acidente na esteira há quatro anos. O padre quebrou a perna, ficou numa cadeira de rodas por seis meses usando anti-inflamatórios e ganhou peso. Ferido em sua vaidade pelos comentários dos fiéis sobre seu sobrepeso, o homem sempre atlético, formado em Educação Física, tomou a atitude radical na alimentação.
— Sou vaidoso com relação ao corpo e ao cabelo. Tomo Finasterida (remédio para cortar a queda de cabelo) há anos, sem me preocupar com as consequências. Sou celibatário, isso não tem importância para mim (um dos efeitos do medicamento é a impotência sexual) — revela.
O padre também diz que se tornou alvo de energias ruins:
— Perdi meus três cachorros, e isso me deixou infeliz. Eles morreram um atrás do outro, do nada. A inveja e o mal existem, mas não posso reclamar, só rezar mais.
Agora livre da doença, ele a analisa com outros olhos.
— A depressão foi uma bênção de Deus na minha vida. Achava que isso era frescura, escutava testemunhos e não dava muita bola — diz ele, que transformou o sofrimento nas canções do novo disco e num livro sobre ansiedade e depressão, a ser lançado em 2015: — Assim como o CD "O tempo de Deus’’, creio que o livro vai ajudar pessoas que sofrem do mesmo mal.
"O tempo de Deus’’, com 14 músicas, chega aos consumidores a R$ 10.
Dificuldade para andar pelas ruas
Em 2014, Padre Marcelo Rossi completa 20 anos de sacerdócio. Desde 1998, quando lançou o primeiro de seus 13 discos, o representante do movimento de Renovação Carismática Católica tornou-se um fenômeno de mídia e popularidade ao incentivar fiéis a cantarem e dançarem como forma de oração. O sucesso de milhões de discos e livros vendidos lhe trouxe a fama. E com ela, o religioso trava uma luta diária:
— Pago um alto preço. Se quero visitar alguém no hospital, ir à farmácia ou ao supermercado, não posso ir de dia, só de madrugada. Mesmo assim as pessoas que me encontram me param, querem conversar, tirar foto. Até para votar é difícil. Tive que trocar de local de votação porque muita gente descobriu onde eu ia por anos, e me cercava. Agora, chego cedinho, não furo fila, mas cumpro o meu dever rapidinho e vou embora para não gerar tumulto.
Sobre as eleições atuais, ele se diz totalmente contrário à união de religião com política:
— A Igreja Católica já aprendeu que essa mistura não dá certo. Padre ou pastor que se candidata a cargo público está errado. Jamais votaria num desses.
Acusação de exibicionismo não o abala
A perda da privacidade pode ter chegado a níveis muito mais dramáticos do que simplesmente a idolatria de seus fiéis, no caso de Padre Marcelo. Uma reportagem publicada pelo site Uol, no último dia 30 de setembro, afirma que o religioso foi investigado pelo Vaticano por cerca de dez anos. A averiguação teria sido motivada pela denúncia de um religioso brasileiro que teria acusado o padre de exibicionismo e de se desvirtuar das práticas católicas, transformando suas missas em “circos’’.
— Não tem sentido, e eu nunca desconfiei de nada nesse sentido. Mesmo que essa investigação tenha acontecido, não tenho nada a esconder. Em 2010, recebi das mãos do então Papa Bento XVI o Prêmio Cardeal Van Thuan, reconhecendo minha dedicação como evangelizador moderno. Sendo assim, chego à conclusão de que não encontraram nada que depusesse contra mim, e que estou aprovado no trabalho que realizo junto à Igreja — afirma o padre, mencionando uma outra ocasião em que descobriu ter tido seu celular clonado: — Foi em 98. Um amigo meu que trabalha com isso analisou e me alertou que estavam tentando pegar algum vacilo meu. Mas não adianta, eu não devo nada.
Padre Marcelo procura amenizar polêmicas também ao falar sobre sua relação com outro religioso midiático, Padre Fábio de Melo. Por muitos anos e até hoje há insinuações de que exista alguma rixa entre os dois.
— Padre Fábio é um grande amigo. Vou fazer o lançamento do meu CD em seu programa, na Canção Nova. Eu dei umas dicas a ele, ele também me abriu a cabeça para outros modos de pensar, porque eu era um pouquinho radical, principalmente com relação à batina, que ele não usa. A questão é: somos unidos, porém diferentes. Mas unidos, o que é mais importante.
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