Em artigo intitulado "Por que o Brasil e agora?", o El País afirma em sua edição online que a crise repentina criada pela onda de protestos, iniciada em São Paulo e no Rio de Janeiro, causa perplexidade dentro e fora do País. O jornal espanhol levanta uma série de perguntas sobre o porquê de isso estar acontecendo neste momento. Segundo o El País, existe apenas um certo consenso de que o Brasil vive uma espécie de esquizofrenia que ainda deve ser analisada e explicada.
"Por que surge agora um movimento de protestos como os que já estão quase de volta em outros países do mundo, quando durante dez anos o Brasil viveu como se estivesse anestesiado por seu êxito aplaudido mundialmente? O Brasil está pior hoje que há dez anos?", questiona o El País. "Não, está melhor. Pelo menos está mais rico, tem menos pobres e o número de milionários está crescendo. É mais democrático e menos desigual", responde a própria publicação.
Por que vaiaram?
O El País também pergunta como a presidente Dilma Rousseff pode ter sido vaiada por quase 80 mil torcedores de classe média, que puderam pagar até 400 dólares por um ingresso na abertura da Copa das Confederações, em Brasília. Por último, o jornal questiona como podem jovens que normalmente não dependem do transporte público porque já possuem carro sair às ruas para protestar contra a alta das tarifas de ônibus. Após uma série de reflexões, o artigo resume uma das razões para isso: "Os pobres chegados à nova classe média tomaram consciência de haver dado um salto qualitativo na esfera do consumo e agora querem mais".
A questão socioeconômica brasileira também foi tratada em reportagem publicada no site do Le Monde e intitulada "Crise no transporte provoca agitação social no Brasil". O jornal francês também publicou nesta segunda-feira um vídeo que mostra a polícia dispersando com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha cerca de 3 mil manifestantes que tentavam se aproximar do Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, para protestar contra os gastos ligados à organização da Copa do Mundo do Brasil um pouco antes do jogo entre Itália e México na Copa das Confederação.
O jornal também mencionou as vaias recebidas pela presidente Dilma antes do jogo. "Dentro do recinto, a presidente Dilma Rousseff se esforçou para conter sua raiva quando foi anunciada, no microfone, a abertura oficial da 9ª edição do torneio, que será realizada em seis etapas diferentes. Seu nome, anunciado pelo presidente da Fifa, Joseph Blatter, da Suíça, que estava de pé ao lado dela, foi recebido por um enorme vaia por longos segundos", ressalta o jornal.
O argentino Clarín, que também observou as vaias recebidas por Dilma no sábado (15), destacou que o jogo inaugural da Copa das Confederações deu início a um "gigantesco" plano de segurança e que, "enquanto centenas de manifestantes eram reprimidos no entorno do estádio Mané Garrincha, pouco antes da partida entre Brasil e Japão, drones israelenses e helicópteros filmavam céu e terra em tempo real".
Teste para 2014
Segundo o Clarín, parte da parafernália de segurança foi usada no sábado (15) em Brasília e no domingo (16) no Rio de Janeiro "para filmar as centenas de manifestantes brasileiros que se aproximaram dos estádios para protestar contra os gastos do governo federal com eventos internacionais".
Os protestos no Brasil estiveram também no site da agência de notícias britânica BBC, que afirmou que torcedores que tentavam chegar ao estádio do Maracanã no domingo ficaram no meio da confusão entre policiais e cerca de 600 pessoas que protestavam contra o aumento na tarifa de ônibus e o uso de recursos públicos para a Copa das Confederações e a Copa do Mundo. "A Copa das Confederações é vista como um importante teste para o torneio de 2014", observou a BBC.
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