Rio - Policiais militares do Batalhão de Choque (BPChq) dispersaram os cerca de 200 manifestantes que ainda estavam em frente à Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) na noite desta segunda-feira, onde mais de 100 mil pessoas protestaram contra o aumento da tarifa dos ônibus na cidade, percorrendo diversas ruas da cidade.
De forma truculenta, os policiais reprimiram o grupo minoritário que ainda estava no local. Os PMs chegaram atirando bombas de gás e de efeito moral, além de efetuarem disparos de balas de borracha. Houve corre-corre e confusão e os manifestantes fugiram por ruas do entorno. Na confusão, pelo menos sete pessoas foram atingidas por spray de pimenta, pedradas, balas de borracha e armas de fogo.
No final da noite, o Palácio Guanabara foi cercado por grades e o policiamento foi reforçado.
Cerca de 50 pessoas correram para a estação das Barcas da Praça XV e tentaram pular as catracas, mas foram impedidas por seguranças da concessionária. Muitos carros do BPChq percorreram as ruas do Centro.
Na Alerj, homens e diversas fileiras de carro permaneceram em fila na entrada do prédio. Antônio Carlos da Costa, presidente da ONG Rio de Paz, viu o filho, Mateus Mendes da Costa, 20 anos, ser preso pelo Batalhão.
"Isto não é democracia, não precisamos de quebra-quebra. Não podemos construir com uma mão e quebrar com a outra. Meu filho participou de forma pacífica. Deixamos o Menezes Cortes para acompanhar o desfecho, quando ele foi preso. Ele não depredou nada e 99% dos manifestantes não queriam esse cenário de guerra e de terra arrasada. É uma sacanagem", disse Costa.
cenário ao redor se tornou irreconhecível. Muito lixo ficou espalhado pelas ruas, placas quebradas, focos de incêndio, pichações, vidros de estabelecimentos e agências bancárias quebradas, carros depredados ou virados se tornaram parte de uma triste paisagem, tomada de alegria e esperança poucas horas antes.
A Avenida Rio Branco e a Avenida Presidente Vargas, que ainda estavam parcialmente interditadas, foram liberadas no fim da noite desta segunda-feira.
Pequeno grupo promoveu correria e quebra-quebra
Mais cedo, policiais militares foram acuados pelo grupo. Os PMs chegaram ao local pelas ruas laterais e, rapidamente, os presentes os cercaram e, gritando as palavras "resistir!", obrigou a recuada dos PMs. Um coquetel molotov foi arremessado no segundo andar da Assembleia e o incêndio causado foi controlado rapidamente.
Os manifestantes desistiram de entrar no local, mas pediram que os policiais que estivessem lá dentro saíssem. "Sem violência, deixem os policiais saírem em paz", bradaram. Bombeiros chegaram aplaudidos pelos presentes, socorrendo feridos próximos, mas não entraram no local porque a segurança das pessoas encurraladas no prédio não era garantida.
Parte dos manifestantes ficou temerosa com presença de agentes do serviço reservado (P2) no local e, temendo novo tumulto, desistiram de invadir a Casa. Um fotógrafo do DIA foi ferido na cabeça por uma luminária que se desprendeu do poste depois de ser atingida por uma pedra.
Entre os feridos, Cléverson Oliveira, 21 anos, foi atingido no braço direito e socorrido por estudantes de medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF) que o levaram para o Hospital Municipal Souza Aguiar, também no Centro, aos gritos de "guerreiro!". Ainda não se sabe se o ferimento foi provocado por armas de fogo ou corte.
Ícaro Oliveira Andrade, 19 anos, foi ferido por uma pedrada na cabeça. "Estava em frente a Alerj. Pedimos para pararem, mas uma pessoa de dentro da Alerj arremesou uma pedra que acertou minha cabeça, vinda da janela. Não vou desistir de lutar, vamos continuar com o movimento", afirmou momentos antes da chegada do BPChq.
Manifestação acabou em corre-corre
A manifestação contra o aumento da passagem de ônibus, entre outras demandas sociais, acabou em corre-corre e confusão. Um grupo de manifestantes tentou entrar na Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj) e a Polícia Militar reagiu com bombas de gás e efeito moral.
Um carro chegou a ser virado e incendiado. A confusão começou no momento em que um manifestante tentou abrir um carro da polícia. PMs do Serviço Reservado (P2) prenderam o rapaz
Quando a maior parte de pessoas presentes ao protesto já havia ido embora, um pequeno grupo persistiu no local e reuniu correntes e pedras para tentar invadir a Alerj uma segunda vez. Alguns jogaram coquetéis molotov na entrada do local e policiais responderam com bombas de gás.
Os participantes acenderam uma fogueira em frente ao local e depredaram dois restaurantes próximos. Eles ainda discutiram entre si, quando um grupo queria derrubar uma banca e outro impediu, afirmando que o dono seria trabalhador. Uma cabine de táxi foi lançada na fogueira e parte do grupo arrombou um caixa eletrônico.
Manifestantes invadiram uma agência bancária na Rua da Assembleia e pegaram móveis e computadores para aumentar o fogo. Anteriormente, eles chegaram a jogar pedras na janela da Alerj. Parte deles depredou carros, queimou montes de lixo e entrou em confronto com os PMs. Um segurança da casa informou que há funcionários e policiais feridos no local e que o socorro não consegue chegar na Alerj por conta da ocupação das vias.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública informou que 20 policiais militares do 5ºBPM (Praça da Harmonia) ficaram feridos. Manifestantes também alegam que houve feridos ao lado de fora. O soldado Martins, que faz a segurança na porta da casa, pediu que os participantes não invadissem o local.
"Trabalho no Alemão e nunca vi uma situação tão tensa. Queria pedir pra ninguém entrar aqui. Estou do lado de vocês, mas alguns passaram do limite. Nunca vi nada igual", contou o PM.
PM apoia manifestação
"Estaria tudo bem se estivéssemos lá, junto com eles". A frase, dita por um policial militar do 5º BPM (Praça da Harmonia) reafirma o caráter pacífico da manifestação contra o aumento da tarifa dos ônibus na cidade. "Sabemos que eles estão certos, mas temos que ficar aqui fardados, cumprindo o nosso papel", revelou outro PM, que não quis se identificar. A estimativa é que as ruas do Centro do Rio foram ocupadas por até 130 mil pessoas.
Um grupo de punks queimou a bandeira do Brasil e foi reprimido pelos manifestantes, o que gerou um rápido bate-boca, sem violência. Quando os manifestantes chegaram nos arredores da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) houve registro de confusão. Um grupo tentou invadir a Alerj e os policiais reprimiram com tiros de borracha e bombas de efeito moral.
Avenida Presidente Antonio Carlos foi completamente interditada ao tráfego. A Avenida Rio Branco, a Araújo Porto Alegre e a pista lateral da Presidente Vargas, sentido Candelária, a partir da Avenida Passos, também ficaram fechadas.
Em nota, a Prefeitura do Rio informou que apoia o protesto e está disposta a dialogar com os manifestantes. O Governo do Estado não quis se pronunciar.
Marcha de branco
A exemplo da manifestação de quinta-feira, populares nos prédios jogam papel picado em apoio ao protesto e os manifestantes pediram a participação coletiva.
Aos poucos, novos grupos foram chegando. Uma hora e meia depois, um mar de gente seguiu em passeata pela Avenida Rio Branco até a Cinelândia, palco de eventos políticos históricos como a Diretas Já, nos anos 80. O efetivo da PM reforçado, com 150 policiais do Batalhão do Choque, acompanhou a movimentação a distância
Na maioria dos edifícios ao longo do trajeto, os presentes nos apartamentos piscaram luzes aderindo ao movimento. Alguns motoristas participam de buzinaço como forma de apoio à mobilização.
Pelas ruas, a multidão demonstrava toda a sua revolta com mensagens em cartazes, faixas e canções de protesto. Fotos e vídeos do local feitos pelos jovens foram para redes sociais para serem compartilhados no YouTube e no Facebook por milhares de internautas.
Um grupo de jovens na dianteira do protesto exibiu a constituição aos policiais e gritou palavras de ordem.
Estudantes de medicina ofereceram assistência médica para quem precisar no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) e no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
Apoio de grupo dos Bombeiros
O grupo S.O.S. Bombeiros, que participou do movimento de greve na corporação em 2011, declarou apoio à manifestação contra o aumento das passagens de ônibus na cidade.
Em comunicado no site, eles pedem comparecimento maciço de colegas e policiais às escadarias da Assembléia Legislativa do Rio, por onde os manifestantes devem passar na noite desta segunda-feira.
"O gigante acordou! O que muitos não enxergavam na época que "meia dúzia" de Bombeiros gritavam nas ruas, estão vivenciando agora. A sociedade está cada vez mais consciente, organizada e disposta a lutar por direitos! O fim do marasmo nos movimentos sociais em nosso país se deu com início do nosso movimento em 2011, que visa a dignidade de todos!", diz trecho do documento.