Não há um retrato único da pandemia do coronavírus no Brasil. Ela avança em diferentes velocidades entre as regiões de um país tão grande e diverso ― e os dados gerais pouco norteiam sobre a gravidade da situação.
Felipe Dalla Valle/Palácio Piratini Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, que testou positivo para o novo coronavírus, ao lado do ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, que agora fará o teste.
Há semanas, os dados brasileiros estão estacionados em um nível preocupante. A curva de novos óbitos aparece estabilizada, mas diariamente entram para os registros oficiais mais de 1.000 novas mortes pela covid-19. Para se ter uma ideia, é como registrar a cada dia um total de mortes que equivale ao número de passageiros de três aviões. É preciso olhar mais de perto os cenários heterogêneos entre as regiões para entender porque ―diferente de outros países, que apresentaram um pico de óbitos e depois uma descida na curva― o Brasil mantém esse platô tão elevado. Enquanto o vírus parece arrefecer em alguns Estados do Norte e do Nordeste (os primeiros a verem seus sistemas de saúde colapsarem com a epidemia, como por exemplo Ceará e Amazonas), ele ganha velocidade em Estados que foram mais poupados no início da crise. Os contágios agora crescem especialmente em parte do Sudeste, no Sul e no Centro-Oeste, como por exemplo Mato Grosso e Rio Grande do Sul, num cenário em que a gestão do Ministério da Saúde, com comando interino desde maio, é criticada e há falta de medicamentos básicos para internação.
O que se tem hoje no Brasil é um sistema de várias epidemias, com surtos, ondas e variações muito diferentes entre regiões, Estados e mesmo municípios. Para demonstrar como a epidemia avança, o EL PAÍS analisou a média móvel de novos óbitos notificados diariamente pelos Estados, um recurso considerado mais adequado pelos especialistas consultados por este jornal para dar um retrato mais preciso sobre a intensidade da pandemia nesses locais. Usamos o monitoramento do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, que soma os resultados dos últimos sete dias e os divide por sete, um recurso para atenuar as diferenças de notificação de novas mortes, que costumam cair nos finais de semana, quando profissionais dos laboratórios e da digitação dos resultados atuam em regime de plantão.
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