O papa Francisco concedeu na segunda-feira (21) aos sacerdotes a liberdade de absolverem ou não as pessoas que cometeram aborto e procuraram a Igreja Católica para se redimir.
A orientação foi publicada na carta apostólica "Misericordia et Miseria", divulgada hoje pelo Vaticano. O texto marca o encerramento do Ano Santo do Jubileu, que foi dedicado ao tema da misericórdia.
A carta apostólica estabelece uma série de novas instruções para que a misericórdia seja adotada como prática diária entre os católicos. Dessa forma, os sacerdotes ficam livres para decidirem perdoar ou não uma pessoa que cometeu aborto.
Isso abre caminhos para médicos e mulheres que já cometeram ou participaram de abortos. Até hoje, os dois eram impedidos automaticamente de se comungarem na Igreja e o status só poderia ser revertido em casos específicos por bispos ou delegados. "Com todas as minhas forças, digo que o aborto é um pecado grave, porque coloca fim a uma vida inocente", afirmou o Papa.
"Mas peço aos sacerdotes que sejam guias e dêem apoio e conforto no acompanhamento dos penitentes", ressaltou o líder católico.
"Para que nenhum obstáculo se coloque entre o pedido de reconciliação e o perdão de Deus, concedo, a partir de hoje, a todos os sacerdotes, na força de seus ministérios, a faculdade de absolver os que os procuram pelo pecado do aborto", determinou Francisco. Além da questão do aborto, o Papa validou as confissões celebradas por sacerdotes lefebrvianos e oficializou o trabalho dos "missionários da misercórdia", postos criados durante o Jubileu para "escutar e perdoar os fiéis".
No texto, Francisco disse que a misericórdia é um "valor social" que deve "restituir a dignidade de milhões de pessoas". Por isso, ele também criou o Dia Mundial dos Pobres, que será celebrado em toda a Itália Católica. Em um claro recado à ala conservadora do Vaticano, o Papa escreveu em sua carta apostólica que "nada que um pecador arrependido coloque diante da misericórdia de Deus pode permanecer sem o seu abraço e o seu perdão".
"Comunicar a certeza do Deus que ama não é um exercício retórico, mas uma condição de credibilidade do próprio sacerdócio", disse Francisco. Jorge Mario Bergoglio também usou a carta apostólica para responder a quatro cardeais consevadores que lhe haviam questionado sobre a exortação apostólica "Amoris Laetitia" ("A Alegria do Amor"), lançada em 8 de abril e que fala sobre a família na sociedade atual.
Assinada pelo cardeal Raymund Leo Burke, a carta acusa Francisco de apoiar o reconhecimento do divórcio. Como o Papa não respondeu ao documento, os cardeais resolveram torná-lo público.
"Quando o caminho da vida nupcial é interrompido pelo sofrimento, pela traição e solidão, a experiência da misericórdia nos permite olhar para todas as dificuldades com a atitude do amor de Deus, que não se cansa de acolher e de acompanhar", ratificou Francisco hoje. Dessa forma, o Papa pede, mais uma vez, que cada caso de separação matrimonial seja analisado de maneira independente pelos sacerdotes.
O Ano Santo Extraordinário da Misericórdia foi encerrado ontem, com uma missa celebrada por Francisco no Vaticano diante de 70 mil pessoas. Tradicionalmente, o Jubileu acontece somente a cada 25 anos. O último tinha sido em 2000, portanto, só ocorreria em 2025. Mas Francisco resolveu convocar um Jubileu Extraordinário com o tema da Misericórdia. O Ano Santo foi iniciado em novembro de 2015 e encerrado agora.
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