Na paroquia Nossa Senhora Das Graças,missa celebrada pelo Padre Marco Antonio Soares
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Iniciamos nesta noite o Sagrado Tríduo Sagrado da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Hoje termina a Quaresma. Adentramos no Tríduo Pascal. Depois de quarenta dias de penitência, de jejum e de conversão, com o tríduo Sacro inicia-se a celebração pascal, pois a morte e a ressurreição de Jesus constituem uma unidade.
Hoje, na Quinta-feira santa, contemplamos um “adeus”: a despedida de alguém que vai para o Pai, conforme nos ensina o Evangelho, mas que, ao mesmo tempo, deixa uma profunda nostalgia, sobretudo por causa do modo como essa despedida será levada ao termo, na noite seguinte. Daí o espírito bem particular desta celebração litúrgica: alegria, até jubilosa – o Glória, solenemente entoado, que somente voltará a ecoar na Vigília Pascal. Mas a alegria é uma alegria em tom menor, misturada com lágrimas, uma alegria reticente, inibida. É a única liturgia do ano, em que se canta o glória, sem que se entoe o Aleluia! Essa liturgia reflete bem o espírito dos fiéis diante dos últimos acontecimentos de Jesus neste mundo contraditório. Eles sabem o que os apóstolos naquela noite não sabiam: que Jesus está percorrendo seu caminho até a glória. Ao mesmo tempo, porém, sentem profundamente a dor desta noite de traição e aflição.
Celebramos nesta noite a instituição do banquete eucarístico como motor básico de nossas vidas de
cristãos. Eucaristia que brota do amor, criada por amor, missa que só se entende por doação e por misericórdia. Amor e doação que acompanha o povo hebreu desde a libertação de Moisés. Povo que caminhou duzentos anos no Egito e que, durante o exílio, ano após ano, antes da Páscoa, reuniam-se para celebrar a graça da libertação.
No tempo de Jesus a páscoa era celebrada com alegria, bem como, com apreensão porque há muito tempo os hebreus não experimentavam a liberdade completa, estavam subjugados pelo poder romano opressor.
Páscoa significa passagem da servidão para a liberdade. Cristo deu uma nova teleologia a esta passagem: do pecado para a graça. Aqui está a novidade para a páscoa cristã: abandonarmos o pecado e iluminar a nossa vida pela santidade de Cristo que irrompeu o reino da morte e anunciou a vida eterna.
A Eucaristia é um Deus-amor que se dá. O sacerdote, como a própria palavra o diz, é um dom de Deus para o povo. E foi para marcar esta doação de Deus e do padre, que Jesus, nesta noite de Quinta-Feira santa, quebrou novamente o ritual da ceia pascal judaica. Cingiu uma toalha e pôs-se a lavar os pés dos Apóstolos. Gesto proibido aos mestres. Gesto proibido aos senhores. Gesto proibido até mesmo aos escravos. O Evangelista João, que encheu, de forma muito densa, todo capítulo sexto do seu Evangelho com o mistério eucarístico, na última Ceia destaca o exemplo do lava-pés, de profunda doação e partilha.
Pedro pede que além de lavar os pés sejam lavadas as mãos e a cabeças. O filho de Deus lavou os pés de todos eles, acrescentando: “Também vós deveis lavar-vos os pés uns dos outros”. O que vem a ser isso? Realmente significa que devemos perdoar dos pés a cabeça, sem nenhum respeito humano.
A Igreja católica, comunidade de amor, alimentada e expressa pela Eucaristia e animada pelos ministros ordenados, nasce do mistério pascal de Cristo. Nesta noite Jesus é entregue e entrega-se aos discípulos como Corpo dado e Sangue derramado, antecipação de sua total entrega ao Pai. Poderíamos dizer que na Quinta-Feira Santa a Comunidade eclesial celebra o mistério da Igreja nascida do mistério pascal de Cristo.
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