Para a Secretaria de Segurança, bandidos saíram de
favelas para roubos e depredações.
O DIA
Rio - A ação de baderneiros no Centro
quinta-feira pode não ter sido apenas um ato de vandalismo. A polícia afirma
ter certeza de que traficantes de diversas favelas do Grande Rio — inclusive
dos complexos do Alemão e da Maré — se infiltraram na multidão usando máscaras
e camisas na cabeça, armados com paus e pedras.
O objetivo: cometer crimes sem serem reconhecidos.
A cúpula da Segurança Pública tenta identificá-los através de câmeras de
segurança.
Segundo o Setor de Inteligência da Secretaria de
Segurança, na tentativa de depredar a prefeitura, havia muitos bandidos do
Morro do São Carlos, no Estácio, que fica logo atrás da sede do Executivo
municipal. Alguns deles estariam armados com paus e pés de cabra.
Agentes garantem que três ônibus saíram da Favela
da Grota, no Alemão, e Nova Holanda, na Maré, em direção ao protesto. No
entanto, policiais são unânimes ao dizer que não havia ordem deliberada de uma
facção.
“Muitos não têm mandado de prisão e, com o
enfraquecimento do tráfico em alguns locais, passaram a roubar. Eles aproveitam
a oportunidade dessas manifestações para cometer crimes”, disse um agente.
Boatos assustam
Além dos crimes, a boataria sobre protestos e
quebra-quebras nas redes sociais ontem colocou cariocas em pânico. Ninguém sabe
ainda a origem das falsas notícias, mas, assim como criminosos fazem em
favelas, muitas lojas, escolas e empresas fecharam as portas antes do fim do
expediente, temendo represálias.
Para tentar tranquilizar a população, a PM passou o
dia desta sexta-feira esclarecendo na página da corporação no Twitter o que era
verdade ou boato sobre as informações que circulavam.
No bairro da Prata, em Nova Iguaçu, a escola
particular Santo Antonio da Prata fechou mais cedo: “Funcionários e alunos
foram liberados porque a direção da escola estava com medo”, disse uma
professora, que pediu anonimato.
Governador diz que
PM evitou danos maiores às pessoas
O governador Sérgio Cabral disse ontem que ‘uma
minoria de vândalos’ tem prejudicado o debate e que a polícia foi obrigada a
reagir em ‘momentos de radicalismos’. “Ela agiu evitando danos mais graves às
pessoas. As imagens falam por si”, declarou ele, que não descarta a
possibilidade de rever procedimentos para evitar excessos nas ações.
“Não estou protegendo a polícia, mas também não vou
proteger os vândalos. Em uma situação dessas, de excessos, não há vitoriosos”.
Cabral também afirmou que as ‘pessoas que agiram com vandalismo’ estão sendo
investigadas.
Já o secretário de Segurança Pública, José Mariano
Beltrame, afirmou que não descarta a atuação do Exército para conter a ação de
uma minoria que depreda a cidade.
A chefe da Polícia Civil, Martha Rocha, informou
que houve oito prisões em flagrante — cinco maiores e três menores — na quinta
e que dois homens já foram identificados em atos de vandalismo.
Flagrantes de
abusos na internet
Vídeos postados na internet denunciam a truculência
de policiais contra quem não participava de atos de violência. Um dos casos,
por exemplo, mostra grupo que esperava pela abertura do metrô da Carioca quando
foi afugentado pelo Batalhão de Choque com bombas de gás lacrimogêneo.
Na Lapa, reduto da boemia carioca, PMs deixaram as
ruas vazias enquanto passavam, enfileirados, jogando os artefatos.
Para Ignacio Cano, coordenador do Laboratório de
Análise da Violência da Uerj, a polícia precisa isolar os violentos e proteger
os manifestantes, e não agir em várias direções no tumulto. “Não deve ter
omissão nem excesso, mas, na dúvida, é melhor conter a ação”.