Por Rosimere Ferreira
Samir
Soares da Silva, conhecido como Samir Tigrão, representa bem a força
transformadora do esporte. Samir, de 34 anos, é um atleta de destaque do
handebol em cadeira de rodas, tendo recebido vários títulos e sendo considerado
uma potência da Seleção Brasileira de Handebol. Natural de Porciúncula, filho
de Geraldo Camilo da Silva, mais
conhecido como "Bobagem", e de Maria das Graças Soares da Silva, o
atleta viu sua vida se transformar quando sofreu um acidente de moto em 2003 e
perdeu a perna esquerda. O esporte foi o agente transformador na vida do até
então soldado da Polícia Militar, que conta um pouco da sua história ao jornal
Estação Porciúncula.
- Como o acidente mudou sua vida?
Eu era
uma pessoa que pensava muito em mim e não ligava muito para os sofrimentos e
nem pelas dificuldades das outras pessoas; com meu acidente, mudei totalmente a
forma de ver o mundo e as pessoas.
- Como
foi essa mudança?
Através do esporte. Hoje o esporte na minha vida significa tudo, e pode trazer grandes benefícios
tanto na esfera física quanto psíquica, mesmo com as dificuldades que sempre existem. É no amor ao esporte que
testamos nossos limites.
- Como
é sua atuação atualmente?
Hoje, jogo profissionalmente o handebol pela Polícia, onde todos os
atletas são patrocinados por uma empresa; jogo de central, jogo no time da
PMERJ/Adezo, treino no Cfap. Treino handebol terça, quinta e sábado, nos demais
dias treinamos atletismo e vamos para a academia.
- Quais
as maiores conquistas no esporte?
Posso dizer que conquistei quase tudo que disputei, tanto no coletivo
como no individual. Sou tetracampeão brasileiro de handebol pela equipe da
Polícia, Campeão Sulamericano pela Seleção Brasileira de handebol, Campeão
Mundial também de handebol pela seleção. Fui eleito o melhor jogador de
handebol do Brasil e artilheiro do brasileiro em 2012 com 56 gols,
artilheiro do Sulamericano pela Seleção com 29 gols, campeão do regional Caixa
de Atletismo no lançamento de dardo e arremesso de peso entre 2011 e 2012, onde
minha marca ficou como a segunda melhor do país em 2012 no atletismo.
- Quais são seus objetivos como atleta?
Hoje, meu
objetivo no esporte é participar de uma paralimpíada e de um panamericano. É o
meu sonho participar de um desses campeonatos e poder ajudar a elevar a Seleção
Brasileira de Handebol. Para o futuro, pretendo voltar para Porciúncula e poder
ajudar os deficientes daí e das cidades vizinhas, seja no esporte ou na
inclusão social.
- As
próximas Paralimpíadas serão no Brasil, em 2016, e o handebol ainda não
faz parte dos jogos paralímpicos. Você acredita que jogará pela seleção
num evento desse porte?
As possibilidades são grandes, pois o
handebol está na luta para virar esporte paralímpico. Se isso acontecer, com os
títulos individuais que venho conquistando no handebol, as chances de realizar
meu sonho são grandes.
·
Fale um pouco do Samir antes e depois
do esporte.
Posso dizer sem pestanejar que sou pessoa abençoada. Muitas vezes não
queremos entender porque certas coisas acontecem em nossas vidas, mas Deus sabe
de todas as coisas. Sempre dizia que eu não era um exemplo a ser seguido por
ninguém antes do meu acidente - esse era o meu modo de pensar. Depois do
acidente, muita coisa mudou na minha vida e o esporte foi o causador disso
tudo. Hoje, na minha equipe e na seleção, muitos me vêem como exemplo, e isso
realmente me emociona. Quando escutei um
garoto que ficou deficiente (por causa de uma bala perdida) dizer que me admira
e que sonha jogar um campeonato comigo, vejo a minha responsabilidade e peço a
Deus que continue me abençoando nessa caminhada.
- Algum
recado para o pessoal de Porciúncula?
Quero aqui poder agradecer primeiramente a Deus, meus familiares que eu
amo muito, ao jornal Estação Porciúncula por essa oportunidade, aos meus amigos
que torcem e sempre torceram por mim e até mesmo aos que torcem contra, mas em
especial a uma pessoa que sou e serei eternamente grato por chegar aqui hoje no
esporte, o professor Jorge Lima. Não tenho palavras para agradecer a essa
pessoa maravilhosa, que foi com quem comecei a jogar handebol em Porciúncula. Se
cheguei até onde estou, mesmo jogando o handebol adaptado, foi porque ele me
ensinou os primeiros fundamentos nesse esporte. Obrigado por tudo Liminha, muito
obrigado, e que Deus continue abençoando você e sua família.
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