Ideias de negócios sustentáveis apresentadas em concurso devem ajudar a diversificar a economia no Noroeste Fluminense
No mundo corporativo, é comum especialistas afirmarem que grandes negócios surgem a partir da observação das necessidades do mercado. Na zona rural não é diferente e, nesse caso, ninguém melhor para apontar soluções do que aqueles que conhecem bem o dia a dia na lavoura e no pasto. A competição “Campo das Ideias” surgiu para que produtores rurais aperfeiçoem seu lado empreendedor, criando novas oportunidades de negócios no Noroeste Fluminense, como geração de energia renovável, exportação de produtos orgânicos ou turismo de aventura, por exemplo.
O concurso é organizado pelo programa SEPT (Small Enterprise Promotional and Training), da Universidade de Leipizig, na Alemanha, em parceria com o Instituto Federal Fluminense e o Programa Rio Rural, da Secretaria Estadual de Agricultura do Rio Janeiro. Há três anos, instituições alemãs vêm desenvolvendo atividades locais por meio do Projeto Intecral (Integração de Tecnologias e Serviços Ecossistêmicos para o Desenvolvimento Sustentável Rural do Rio de Janeiro), cooperação técnica entre Brasil e Alemanha articulada pelo Rio Rural.
O cultivo de boas ideias
As equipes competidoras são formadas por agricultores, pecuaristas e estudantes do Instituto Federal Fluminense. Treze grupos de seis cidades estão participando: Italva, Itaperuna, São José de Ubá, Bom Jesus do Itabapoana, Varre-Sai e Porciúncula, tradicionais municípios produtores de leite e café. “Queremos aliar o melhor da experiência do produtor e o melhor do conhecimento técnico dos alunos. O produtor pode ter uma boa ideia e o estudante pode trazer isso para a prática, sugerindo a adoção de tecnologias, dependendo do caso”, afirma o diretor de Pesquisa, Inovação e Extensão do IFF, Daniel Ferreira.
Juliano Boechat, beneficiário do Programa Rio Rural em Bom Jesus do Itabapoana, se inscreveu no concurso com o projeto de criação de um entreposto comercial de ovos de galinha caipira, que são mais nutritivos e têm maior valor agregado em relação os ovos de granja. Na comunidade de Juliano, existe apenas uma propriedade que fornece o produto. “A maioria aqui produz leite e, recentemente, alguns têm investido em legumes e verduras. Leite é bom, mas o preço varia conforme o mês. O ovo de galinha caipira tem boa saída o ano todo. O entreposto daria segurança ao negócio”, explica ele.
O produtor Jorge Almeida, de Varre-Sai, também defende a criação de entrepostos em municípios do Noroeste Fluminense, mas voltados para a venda produtos agrícolas em geral e que sejam administrados por associações de produtores rurais. Ele sugere a instalação de painéis eletrônicos nos locais de venda, exibindo a cotação dos produtos para facilitar a comercialização. “Por conta da precariedade dos mercados municipais, os agricultores têm preferido vender para os programas institucionais, como a merenda escolar. Por sua vez, os donos de mercearias da região compram produtos até de outros estados, pois não têm quem forneça nas redondezas. O entreposto uniria as duas pontas”, ressalta o produtor.
Tecnologia social
Durante dois anos, Omar Torres, pesquisador da Universidade de Leipizig, na Alemanha, e mestre em administração de empresas, estudou a realidade econômica de duzentas famílias de Italva e Itaperuna, tradicionais produtoras de leite. A pesquisa apontou que quase 60% dos entrevistados tiram o sustento dos alimentos que produzem, 16% ganham dinheiro em atividades do segmento rural, como aluguel de sítios, enquanto 25% trabalham em áreas diversas. Torres observou que as cidades vizinhas tinham uma realidade parecida e, acima de tudo, potencial para a expansão econômica rural.
Segundo o pesquisador, a agricultura moderna é baseada no princípio da multifuncionalidade. Os sistemas sustentáveis, como a produção de orgânicos, por exemplo, abrem o leque de atividades, pois a venda do alimento pode ser apenas uma das fontes de renda. “Quando se pratica a monocultura, o que importa é apenas produzir muito e vender. Nos orgânicos, além da geração de renda, existe a proteção do solo e pode-se criar o turismo agroecológico”, detalha o pesquisador.
O secretário estadual de Agricultura, Christino Áureo, ressalta também que o concurso é um importante incentivador de tecnologias sociais, que aliam o saber popular, a organização comunitária e o conhecimento técnico. “A iniciativa promove a inclusão social no campo, além de ganhos ambientais e econômicos, tornando o produtor rural protagonista do desenvolvimento sustentável”, conclui Áureo .
A proposta é que os negócios em destaque no concurso “Campo das Ideias” possam ser replicados em outras cidades. Os melhores projetos terão acompanhamento técnico de entidades parceiras como a Emater-Rio e o Sebrae-Rio para serem executados. Os vencedores serão anunciados no próximo dia 22, durante a Semana do Conhecimento, evento acadêmico do IFF, em Bom Jesus do Itabapoana.