O governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), 59 anos, está matematicamente eleito governador do Rio de Janeiro, segundo o Datafolha.
Vice-governador desde 2007, o peemedebista assumiu o cargo em abril, após a renúncia do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB). Ele não poderá concorrer de novo ao posto em 2018.
Pezão baseou sua campanha apresentando-se como um homem simples e interiorano. Buscou se desvincular de Cabral, que renunciou com a popularidade em baixa após os protestos de junho de 2013. Ele defendeu as políticas públicas da gestão, como as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) evitando mencionar o nome do antecessor.
No segundo turno, passou a criticar o adversário, bispo licenciado da Igreja Universal, por supostamente misturar política e religião. Veiculou propagandas atacando práticas da cúpula da denominação religiosa e de seu líder, o bispo Edir Macedo, tio de Crivella.
Assumir o cargo de abril tinha duplo objetivo: ampliar seu conhecimento no eleitorado e tentar desvincular sua imagem à do antecessor.
A ampla coligação de Pezão, com 18 partidos, ajudou a resolver o desafio de se fazer conhecido. O peemedebista tinha quase a metade de todo os 20 minutos do tempo de TV dos candidatos ao governo, oito vezes o de Crivella - o senador, repetidas vezes, afirmou que o adversário tinha "uma minissérie por dia".
Como efeito colateral, a coligação ampla embaralhou as relações com a eleição presidencial. A base de apoio de Pezão tinha cinco candidatos a presidente: Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB), pastor Everaldo (PSC), José Maria Eymael (PSDC) e Levy Fidelix (PRTB).
Apesar do palanque múltiplo, Pezão sempre foi Dilma. Mas não tentou evitar que parte do PMDB apoiasse Aécio em um movimento que fico conhecido como "Aezão", o voto combinado em Pezão e no tucano.
CAMPANHA
Enquanto Pezão era quase um anônimo, Crivella contava com um recall fortíssimo. Desde 2002, o nome dele esteve na urna eletrônica por seis eleições. Venceu e foi reeleito apenas para o Senado. No Executivo, Crivella colecionava fracassos: duas vezes na prefeitura do Rio e outra na disputa pelo governo estadual.
Pezão tinha de se apresentar ao eleitor e, principalmente, descolar sua imagem de Cabral. Se o antecessor corroeu a própria imagem em passeios de helicóptero e demonstrações de ostentação em jantares em Paris ao lado de empresários, Pezão foi apresentado na TV como um homem simples e interiorano, o prefeito de Piraí (RJ), -cidade do interior com 28 mil habitantes- o vice-governador que "pôs o pé na lama" quando chuvas provocaram uma catástrofe natural na Região Serrana do Rio, em 2011.
Com o programa sem praticamente qualquer depoimento de aliado político, dona Ercy de Souza, 84, sua mãe, se tornou sua principal cabo eleitoral. No seu depoimento, orientava o filho a "ter sempre o pé no chão". Pezão costumava finalizar seu programas de TV dizendo "ser desse jeito". "Eu não mudo".
A disputa no segundo turno contra Crivella surpreendeu até sua campanha, que esperava enfrentar o deputado Anthony Garotinho (PR). Com o novo adversário, o PMDB mudou sua estratégia.
O homem interiorano passou a atacar o adversário, criticando seu vínculo com a cúpula da Igreja Universal, em especial o bispo Edir Macedo, seu tio. Passou a afirmar que Crivella era uma ameaça de mistura de política e religião. A estratégia ampliou a rejeição do adversário e impôs um teto que o senador não conseguiu ultrapassar.
GOVERNO CABRAL
Durante o governo Cabral, Pezão foi secretário de Obras e, a partir de 2011, coordenador de infraestrutura. Consolidou a imagem de "tocador de obras" ao gerenciar as intervenções do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) no Estado.
Ao executar o programa, se tornou amigo da presidente Dilma Rousseff, a quem apoiou no Rio, apesar da divisão de seu partido. Uma ala do PMDB decidiu apoiar o senador Aécio Neves (PSDB), após o PT lançar a candidatura do senador Lindbergh Farias (PT), derrotado no primeiro turno.
Apesar de apoiar Dilma, o governador reeleito formou uma aliança de 18 partidos que incluía PSDB e DEM. Mas não fez agendas ao lado de Aécio durante toda a campanha.
Nascido em Piraí (RJ), cidade do interior do Estado com 28 mil habitantes, Pezão ascendeu à política estadual graças à aliança com o ex-governador Anthony Garotinho (PR), a quem enfrentou no primeiro turno. Os dois romperam já em 2007, no início do governo Cabral, por divergências políticas. Durante a campanha, trocaram acusações de vínculos com milícias e corrupção.
Pezão foi prefeito por dois mandatos em Piraí (1997-2004) e também foi vereador por duas vezes (1982-1988 e 1992-1996). Desde o início da vida pública, já passou por quatro partidos (PMDB - PSDB - PDT - PSB). Presidiu a Associação de Prefeitos do Estado, o que lhe deu trânsito e diálogo com diversos municípios do Estado.
Ele foi condenado pela Justiça Federal por fraude na compra de ambulâncias quando prefeito de Piraí, e responde a mais quatro processos sobre o mesmo tema - foi absolvido em outros três acerca do mesmo caso. Ele nega as irregularidades e recorre da condenação no TRF (Tribunal Regional Federal).