Uma faixa foi colocada na comunidade pedindo ajuda das
autoridades para intervir. Região passou a ser conhecida como 'Fubaquistão' por
conta dos frequentes confrontos entre milicianos e o Comando Vermelho.
Reféns do medo e do crime, moradores do Morro do Fubá, comunidade localizada
entre os bairros de Cascadura e Campinho, na Zona Norte do Rio, tentaram, mais
uma vez, pedir socorro para as autoridades. Na terça-feira, foi colocada uma
faixa no interior da favela denunciando a cobrança de taxas de segurança
estabelecida pela milícia que tenta controlar a região.
Segundo os moradores, o pagamento no valor de R$ 50 está sendo cobrado via Pix,
mesmo com a presença de policiais militares, que, segundo eles, estariam
acobertando as ações ilegais. Comerciantes também estão sendo obrigados a fazer
o pagamento da taxa.
"Não aguentamos mais essas cobranças em nossa comunidade. Proprietários de
casas e lojas estão sendo obrigados a pagar uma segurança via Pix, que não
temos. E tudo isso sendo feito aos olhos da PMERJ, que vem apoiando os
milicianos essa falsa "ocupação"!! Nós somos os verdadeiros financiadores
desta guerra. Queremos paz e livres dessa falsa segurança", diz o pedido
de socorro.
A ocupação mencionada na mensagem se refere a ação do 9º BPM (Rocha Miranda),
que se instalou no local por tempo indeterminado. A ação está intensificada
desde a morte
do turista americano Joseph Trey Thomas, de 28 anos. No último dia 10, a
vítima foi baleada na cabeça durante a guerra entre milicianos e traficantes do
Comando Vermelho (CV), e morreu dois dias depois.
No entanto, o clima de guerra na região, que agora é chamada de "Fubaquistão" pelos
moradores, começou
há oito meses. O local era chefiado pela milícia do 'Tico e Teco',
comandada por Leonardo Luccas Pereira, o 'Leleo' ou 'Teco', mas foi invadido
pelo CV, em janeiro deste ano, liderado pelo gerente do Morro do 18, Rafael
Cardoso do Valle, o 'Baby', depois que as milícias do Campinho e do Morro do
Fubá foram traídas por um ex-integrante. Atualmente, os traficantes dominam a
parte alta da comunidade, mas a parte baixa segue sendo comandada pelos
paramilitares.
Ao DIA, um morador que não quis se identificar, disse que todos os cabos
de internet também foram roubados e que a comunidade está sem internet há pelo
menos 21 dias. Ele mora em uma casa com seus dois filhos adolescentes e contou
que sente dificuldades para trabalhar. "Estamos sem poder usar internet
porque eles cortaram os fios e não deixam a operadora consertar. É muito complicado,
eu até tenho planos de me mudar, mas infelizmente ainda não tenho como",
desabafou.
O que diz a Polícia Militar
De acordo com o comando do 9º BPM, as equipes trabalham
incessantemente para estabilizar o território, onde ocorre uma disputa entre
criminosos rivais. Além disso, a corporação informou que faz uso do blindado da
PM para apoiar a ocupação.
Questionada sobre um possível acobertamento de policiais militares com a
extorsão de milicianos na comunidade, a corporação disse não compactuar com
desvios de conduta praticados por seus integrantes. Informou ainda que a PM não
recebeu denúncias de moradores sobre a cobrança de taxas.
"A Polícia Militar disponibiliza canais para o recebimento de denúncias da
população. A Corregedoria Geral da Polícia Militar pode ser contactada pelo
telefone (21) 2725-9098 ou ainda pelo site https://www.cintpm.rj.gov.br/."
O que diz a Polícia Civil
Em nota, a Polícia Civil disse que prendeu mais de 1,2 mil
milicianos nos últimos dois anos, entre eles os três maiores chefes. De acordo
com a 29ª DP (Madureira), a faixa foi retirada do local. A delegacia ressalta
que investiga a atuação de milicianos e traficantes na região e está em diligências
em busca de testemunhas e informações para identificar os criminosos.
O DIA