À frente nas pesquisas, o atual governador do Rio, Cláudio
Castro (PL), e o deputado Marcelo Freixo (PSB) se tornaram os principais alvos
de ataques no debate com os concorrentes ao governo do Rio, promovido pela TV
Globo na noite desta terça-feira. O tema da corrupção foi protagonista já no
primeiro bloco e foi usado também por Rodrigo Neves (PDT) e Paulo Ganime (Novo)
para mirar tanto em Castro quanto em Freixo.
Denúncias de irregularidades nas contratações da Fundação
Ceperj, que movimentaram quase R$ 250 milhões em saques em espécie em esquema
de cargos secretos, e delações premiadas contra o atual governador com
acusações de recebimento de propina, hoje sob análise do Superior Tribunal de
Justiça (STJ), foram citados pelos adversários de Castro. Já o marqueteiro da
campanha de Freixo, Renato Pereira, que delatou à Lava-Jato caixa dois em
campanhas do MDB fluminense, e a aliança com o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva (PT) foram explorados contra o candidato do PSB.
Freixo apontou o suposto envolvimento de Castro em fraude na
Fundação Leão XIII, lembrando delação em que uma testemunha diz que o candidato
recebeu US$ 20 mil para "passear com a família na Disney", no período
em que ele ainda era vereador. Ele também citou denúncias na Saúde que
culminaram com o impeachment do ex-governador Wilson Witzel (PMB), quando houve
buscas e apreensões na casa de Castro. Em determinado momento, ressaltou que
"há uma possibilidade, sim, da gente ter um governador preso
novamente".
— (Castro) Teria recebido 20 mil dólares para passear na
Disney. Ele visita, mas não explica. Ainda tem um inquérito de fraudes na
saúde. O mesmo que tirou Wiitzel do poder. A corrupção mata — atacou Freixo,
que pediu aos eleitores para pesquisar no Google "Cláudio Castro e
mochila", a exemplo de sua propaganda na TV.
Além de ressaltar suspeitas contra Castro, Paulo Ganime
mirou também em Freixo:
— Freixo fala do Castro, mas esquece quem é o marqueteiro
dele, que tem condenação por caixa dois. Freixo está ligado a um condenado pelo
maior esquema de corrupção, o ex-presidiário Lula. Ele é ligado por pessoas
iguais — disse o candidato do Novo.
Em um direito de resposta, Castro se defendeu acusando
Freixo de mentir sobre o caso do Ceperj.
— Há uma campanha aqui que foi a mais condenada na história
do Tribunal Regional Eleitoral por mentir, por enganar, que é a campanha do
candidato Marcelo Freixo. Ele teve 16 condenações, ele é condenado pelo TRE.
Ele é condenado porque mentiu. O Ceperj não é nada disso, a gente vai explicar.
Realmente, delações existem, é aquela indústria de delações que você viu. O
Freixo, ele é curioso: o marqueteiro dele é envolvido em delação, o pessoal que
o apoia é envolvido em delação, mas ele fala. Sabe a minha diferença? Estou
processando todos os delatores para que apresentem as provas, e não tem nenhuma
contra mim — afirmou o governador.
Em outro momento, Castro foi confrontado com uma pergunta de
Ganime sobre prisões e acusações contra ex-secretários do governador, como Alan
Turnowski, que chefiou a Polícia Civil e é acusado de ligação com o jogo do
bicho, e Raphael Montenegro, que comandava a Administração Penitenciária e
teria negociado com uma facção criminosa. Castro afirmou que é responsável por
aqueles que nomeia.
— Eu sou responsável por aquele que eu nomeio. Só quem já
meteu a mão na massa sabe o que é isso. O que a outra pessoa colocou é
responsabilidade dela. Quando aconteceu o problema da Ceperj, eu fui dialogar
com Ministério Público. Quem governa pode ter problemas sim — respondeu.
O candidato à reeleição evitou, ao longo do debate, o embate
direto com Freixo, o que só ocorreu no último bloco, em uma pergunta do
deputado federal sobre milícias. O primeiro embate gerou pedidos de direito de
resposta em série de ambos os candidatos.
Contradição
Ainda no primeiro bloco, Rodrigo Neves apontou suposta
contradição de Freixo no recebimento de financiamento de banqueiros em sua
campanha. O candidato do PSB respondeu que se trata de um movimento de diálogo.
— A gente vive um momento no Rio e no Brasil muito agudo.
Uma crise de desemprego, na violência e na saúde sem precedente. O que a gente
conseguiu no Rio de Janeiro foi um movimento de união de diálogo. Onde é
possível ter uma pessoa como Armínio Fraga, Marcelo Trindade e ter os
movimentos sociais, uma liderança de favela, os professores, é isso que o Rio
precisa. Sem isso o Rio não sai dessa crise enorme que está — respondeu Freixo.
Neves rebateu dizendo que "o papo de frente ampla não
engana as pessoas":
— Olha Freixo, esse papo de frente ampla, de união,
evidentemente não engana as pessoas. Você dizia que quem financia campanha
cobra fatura depois. Armínio Fraga que é representante do sistema financeiro
internacional doou mais de R$200 mil pra sua campanha. O sócio do banqueiro
Daniel Dantas doou mais de R$100. As famílias do banco Itau financiaram com
mais de R$1 milhão. Essa contradição você precisa explicar.
Ao debater soluções para combater o desemprego, Neves
alfinetou Castro, após o governador ressaltar que indústrias voltaram ao Rio em
sua gestão e que o estado é um canteiro de obras.
— Ouço você falar e me sinto em Marte. Você, Cláudio, fala
em números mas ninguém vê empregos. As pessoas passam fome, mas o Castro fala
em números que parece ser uma maravilha esse estado — atacou o pedetista.
Castro se afasta de Witzel e Freixo mira centro
Vice de Wilson Witzel, que sofreu um impeachment ao meio do
mandato, Castro buscou se afastar do antigo aliado ao longo do debate. O chefe
do Executivo chegou a chamar o antecessor de "outra pessoa",
genericamente. Perguntado por Rodrigo Neves sobre transporte, Castro voltou a
se desvencilhar de Witzel e alegou:
—Eu só estou no governo há dois anos.
Neves devolveu:
— Você está há quatro anos com o parceiro Witzel, que você
traiu.
Já Freixo repetiu a estratégia de se mostrar como um
candidato mais ao Centro e acenou a essa parcela do eleitorado ao ser
perguntado por Paulo Ganime sobre segurança pública.
— Precisamos de dois braços. Uma é a polícia bem treinada
para botar bandido na cadeia. O segundo é investimento social.
Freixo também repetiu que, em um eventual governo sob seu
comando, "haverá, sim, operações policiais".
G1