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segunda-feira, 1 de junho de 2020

O que o Brasil está escondendo por trás das “explosões de mortes em casa" na pandemia de covid-19


Será que isso vem ocorrendo também em cidades do interior do Brasil, os idosos estão sendo monitorado e vigiados? É um caso a pensar, pois traz  muitos riscos aos que residem próximos a eles como vizinhos e familiares. O melhor tratamento é no hospitais e não em casa.



















Em Manaus médicos a atestarem cinco mortes por covid-19 de pessoas que morreram em suas próprias casas.

"Era muita coisa. Antes disso, eu não costumava constatar nenhum óbito (doméstico) no meu plantão, conta a médica, que pediu para não ser identificada. Em geral são pessoas idosas, de 70, 80 anos. Esperam em casa mesmo, porque sabem que não teriam assistência nos hospitais (superlotados). Tentam se medicar com tudo o que podem em casa. Totalmente errado. “
Enquanto a situação é dramática em boa parte da rede de saúde brasileira em meio à pandemia, há pacientes como esses, em estado grave, que nem estão tendo a chance de receber atendimento médico: estão morrendo fora dos hospitais, muitas vezes de uma piora rápida e inesperada da covid-19 ou com medo de ir ao médico e pegar a doença.
Quatro causas prováveis
Desse total, segundo as certidões de óbito, 80% das pessoas morreram de problemas não relacionados à covid-19. Isso parece ser um indicativo de que pacientes com outras enfermidades graves podem estar tendo menos acesso a tratamentos, uma vez que quase todo o sistema de saúde está voltado ao controle da pandemia.
Pacientes com covid-19 com quadro moderado, mas que pioraram repentinamente;
Pacientes com doenças terminais que provavelmente morreriam em hospitais, mas, em meio à pandemia, acabam temendo a hospitalização e ficam em casa;
Pacientes com outros problemas médicos, desde sinais de mal-estar que podem ser de um infarto até um AVC, por exemplo.
Com medo de se infectar, esses pacientes estão evitando buscar atendimento médico e perdendo acesso adequado ao serviço de saúde.
Nesse último caso, os pacientes podem acabar morrendo não por causa do coronavírus em si, mas como um efeito colateral da pandemia.
 No Brasil não é que as pessoas estejam sendo impedidas de ir ao médico, mas há menos exames de câncer e menos cirurgias sendo feitos, e há evidências também de que as pessoas estão fazendo menos consultas e evitando  essas hipóteses o epidemiologista Paulo Lotufo, professor de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP, soma os estragos que o novo coronavírus pode causar no corpo, e que, em alguns casos, vão muito além do quadro gripal ou do comprometimento pulmonar.
"A gente inicialmente achava que o vírus causasse só uma gripe ou, nos casos mais graves, uma pneumonia. Mas não é só isso. O vírus atua também no sistema circulatório, elevando o risco de uma morte súbita em casa por doenças cardíacas", explica o médico.
Outro efeito "terrível", diz Lotufo, é que há casos em que o vírus "atua no sistema nervoso central, fazendo com que o cérebro deixe de identificar a baixa oxigenação do pulmão. Alguns pacientes relatam uma sensação de bem-estar (respiratório) mesmo estando péssimos. Chega ao hospital com oxigenação muito baixa, quadro em que normalmente estariam em coma, mas chegam conversando".
O sinal para se buscar atendimento
Com tudo isso, para médicos que estão acompanhando o avanço da pandemia, uma preocupação é justamente com essa repentina piora que alguns pacientes com covid-19 em estágio moderado podem apresentar.
A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de que, na impossibilidade de se hospitalizarem todos os pacientes da covid-19 por causa das limitações do sistema de saúde, os que tenham sintomas leves (a ampla maioria) podem ficar em casa, "desde que eles possam ser acompanhados e cuidados por membros da família".
Não é essa, no entanto, a realidade da maioria das pessoas, gerando preocupações de que o quadro se agrave, mas passe despercebido de pacientes e cuidadores.
"Como não há um monitoramento diário desses pacientes (por profissionais de saúde), existe o risco de as coisas darem errado muito rapidamente", diz o médico Bharat Pankhania, professor palestrante da Escola de Medicina da Universidade de Exeter (Reino Unido), especializado em controle de doenças infecciosas.
O principal sinal de alerta para pacientes e cuidadores, diz ele, é a sensação de cansaço extremo ao fazer atividades cotidianas, além da falta de ar e letargia. "É o sinal de que o paciente precisa de suplemento de oxigênio."
É preciso chegar ao médico antes que uma pneumonia viral se instale, diz ele, "porque se ele já tiver a pneumonia, também já pode ser muito tarde".
Para a médica de Manaus  pessoas com sintomas persistentes de covid-19 (alguns dias de febre, tosse e dores de cabeça e no corpo) devem buscar atendimento médico, mesmo antes de bater a sensação forte de cansaço. Sobretudo se elas forem pessoas dos grupos de risco, como idosos, obesos, fumantes e pessoas com comorbidades.
"Essas pessoas não podem esperar em casa, porque a piora é muito rápida", diz ela.
Um levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica e da Sociedade Brasileira de Patologia aponta que ao menos 50 mil brasileiros podem ter ficado sem diagnóstico de câncer entre os meses  de março e maio, já que menos exames estão sendo realizados.
O levantamento calcula uma queda de 50% a 90% na realização de diferentes tipos de biópsias. Com o diagnóstico tardio ou inexistente, o risco é de que tumores avancem, não detectados, para o estágio avançado.
Os mais pobres os que têm mais chances de morrer em casa.São eles que têm de perseverar mais, sair para trabalhar e acabam  enfrentando aglomerações. As pessoas mais ricas têm a quem chamar e têm mais chances de serem observadas (por médicos). Com tudo isso junto, a covid-19 é uma espécie de eliminadora de pessoas pobres, porque as afeta de modo muito desproporcional.
Os casos ainda são muito graves, mas estão diminuindo.





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