Índice Firjan de Gestão Fiscal (IFGF), que analisa as contas de mais de cinco mil municípios brasileiros em quatro indicadores, mostra que as cidades fluminenses investem, em média, somente 4,6% da receita.
Dentre as cidades da região Norte Fluminense, Macaé é o único município que segue na contramão da maioria: combinou excelente nível de autonomia e destinou um bom percentual da receita para investimentos públicos. Diferente de São Francisco de Itabapoana que terminou o ano de 2024 com situação fiscal em nível crítico. O município apresentou forte dependência de transferências intergovernamentais para custear despesas básicas obtendo nota zero no IFGF Autonomia. Maior município da região, Campos dos Goytacazes, terminou 2024 com boa situação fiscal, embora ainda com forte penalização de investimentos públicos.
“Chama ainda mais atenção o fato de que esse péssimo resultado foi em momento de conjuntura econômica favorável no país em 2024 e maior repasse de recursos para os municípios. Toda a sociedade precisa acompanhar e cobrar dos gestores maior compromisso com o dinheiro público. Não podemos aceitar esse cenário”, ressalta o presidente da Firjan, Luiz Césio Caetano.
O presidente da Firjan defende também que as cidades desenvolvam ações para estimular a economia e gerar recursos localmente. “Assim, além de não ficarem tão vulneráveis aos ciclos econômicos, darão oportunidades para a população, com melhoria da renda e da qualidade de vida”, reforça Caetano.
Com base em dados declarados pelas prefeituras, o IFGF analisa as contas de 5.129 municípios brasileiros e é composto pelos indicadores de Autonomia, Gastos com Pessoal, Investimentos e Liquidez. Após a análise de cada um deles, a situação das cidades é considerada crítica (resultados inferiores a 0,4 ponto), em dificuldade (resultados entre 0,4 e 0,6 ponto), boa (resultados entre 0,6 e 0,8 ponto) ou de excelência (resultados superiores a 0,8 ponto).
A análise dos indicadores revela que, em média, nas cidades do Norte Fluminense houve excelência em Gastos com Pessoal (0,8269 pontos) e alto nível de Liquidez (0,7257 pontos), sugerindo flexibilidade orçamentária e bom planejamento financeiro. O grande ponto de fragilidade da região está no nível crítico de Investimentos (0,3351 pontos) e na baixa autonomia das prefeituras (0,5116 ponto). No estado do Rio de Janeiro, foram avaliadas as contas de 83 municípios.
Na contramão da média das cidades brasileiras, que apresentaram situação fiscal mais favorável diante da conjuntura de 2024, a média dos municípios fluminenses foi pior, registrando 0,5587 ponto (gestão em dificuldade). Niterói tem gestão de excelência e é o único a alcançar nota máxima (1 ponto) no estudo. Macaé, com 0,9471 ponto, Angra dos Reis, com 0,8630 ponto, Volta Redonda, com 0,8433 ponto, e São João da Barra, com 0,8061 ponto, também têm classificação de excelência na gestão fiscal. A capital registra 0,7203 ponto (boa gestão).
Os dados de Carapebus não foram avaliados devido à indisponibilidade ou inconsistência nas informações declaradas.
Já no indicador de Gastos com Pessoal, que aponta quanto os municípios gastam com o pagamento de pessoal em relação ao total da Receita Corrente Líquida, a média fluminense é de 0,7174 ponto (boa gestão). O resultado é influenciado pelo forte crescimento do orçamento total - e não pelo ajuste na folha de pagamentos, medida que atualmente não é possível por conta da legislação.
Apesar da média positiva, a análise individualizada revela que dezesseis prefeituras comprometem mais de 54% da receita com gastos com pessoal. Nesse grupo, cinco municípios (Cabo Frio, Engenheiro Paulo de Frontin, Itaguaí, São Sebastião do Alto e Seropédica) destinam mais de 60% da receita para esse tipo de despesa, ultrapassando o limite máximo determinado pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
“É fundamental considerarmos que o cenário está melhor por conta dos resultados econômicos de 2024 e de maior repasse de recursos, mas que isso pode não se repetir em outros momentos. Também é importante frisar que, mesmo com maior folga fiscal, continuamos com uma parcela significativa de cidades em situação desfavorável, evidenciando desigualdades históricas e mantendo o Brasil longe de patamar elevado de desenvolvimento”, destaca o presidente da Firjan, Luiz Césio Caetano.
Somente do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) foi registrado o total de R$ 177 bilhões de repasses em 2024. Caetano ressalta que as cidades precisam melhorar a geração de recursos para não continuarem tão dependentes de transferências.
O gerente de Estudos Econômicos da Firjan, Jonathas Goulart, reforça que, diante do quadro geral apresentado pelo estudo, reformas são essenciais para tornar a gestão municipal mais eficiente para o desenvolvimento do país. “Entre os principais pontos que precisam ser considerados estão os critérios de distribuição de recursos, que necessitam de revisão para incluir regras que estimulem os gestores públicos a ampliarem a arrecadação local e que garantam qualidade no gasto público. A reforma administrativa para permitir a flexibilização do orçamento e a otimização das despesas de pessoal também é uma questão de extrema importância, além de outras que destacamos no estudo”, diz Goulart.
Nenhum comentário:
Postar um comentário