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sábado, 12 de março de 2022

Após aumento de combustíveis, plataformas de transporte de passageiros anunciam reajuste de até 6,5% nos preços das viagens

As plataformas de transporte de passageiros e entregas estão avaliando compensações ao reajuste dos combustíveis para os motoristas de transporte de passageiros e motofretistas. A Uber anunciou haverá um reajuste temporário de 6,5% nos preços a ser aplicado nas viagens a partir da próxima semana. Segundo a empresa, o objetivo ajudar os motoristas a lidar com o pico de alta em seus custos operacionais.

Já a 99 anunciou que vai reajustar em 5% por quilômetro rodado no ganho do motorista. Segundo a plataforma, o acréscimo será implementado já nos próximos dias, nas 1.600 cidades onde a empresa opera. A plataforma disse ainda está  testando um "subsídio" para acompanhar as flutuações dos combustíveis, tanto para cima quanto para baixo. Após os testes, o novo recurso seria implementado, mas ainda sem data.

O iFood informou que "está acompanhando o cenário". Segundo a empresa, a plataforma "segue dialogando com os entregadores como parte do processo de escuta que já resultou em medidas para a categoria na questão de ganhos, bem-estar e transparência". O iFood, no entanto, não anunciou reajuste em suas tarifas.

Os motoristas de aplicativos e entregadores dizem que a situação tornou-se insustentável após a nova escalada de preços dos combustíveis. Eles agora calculam o impacto do aumento na atividade profissional. Para muitos, a disparada dos preços — que no caso da gasolina foi de 18,8% — poderá inviabilizar a continuidade do trabalho.

Memes:  

O motorista de aplicativo de transporte Emerson Costa, de 45 anos, disse que não está mais conseguindo manter o financiamento do veículo. Mesmo ampliando o tempo em que permanece rodando, ele calcula que está ganhando 30% a menos por mês. Segundo Emerson, muitos motoristas têm cancelado e selecionado as viagens, especialmente as mais longas, porque o trajeto e o tempo não compensam o que vão ganhar.

— Eu saio às 4h da manhã e fico até às 20h. Tudo subiu de preço, além da gasolina, a manutenção, as peças. Só de GNV, eu gasto agora mensalmente R$ 2.200 por mês. Estou devendo o carro que consegui  com muito custo, mas não estou conseguindo custear o financiamento do veículo. Agora, para rodar, o motorista tem que selecionar as viagens que serão mais vantajosas para reduzir o prejuízo. Por isso, está crescendo o cancelamento de corridas — explica.

No bolso:  

Segundo dados mais recentes do IBGE, a inflação acumulada nos últimos 12 meses para os combustíveis no Brasil é de cerca de 44%. Para o economista André Braz, do Ibre-FGV, avalia que o impacto ainda pode se aprofundar com um possível aumento nos preços também do GNV, combustível bastante usado por motoristas de aplicativos do Rio de Janeiro:

— O impacto dependendo da posição geográfica do profissional. Em alguns estados, o etanol pode compensar, o que não é o caso do Rio de Janeiro. No Rio, o GNV é o mais demandado mas sofre influência da variação do preço do petróleo, e esperamos que haja também reflexos e os motoristas vão ser afetados também — prevê Braz.

O motorista Marcelo Amorim, de 45 anos, vende água, perfumes e cosméticos para complementar a renda cada vez mais comprometida. Para ele, um dos principais problemas é que as empresas não acompanharam o aumento dos combustíveis que está sendo absorvido integralmente pelos motoristas:

Ainda não compensa:  

O taxista Robson Martins percebeu que a a gasolina aumentou nesta sexta-feira R$0,10 em alguns postos, em outros aumentou de R$0,15 a R$0,20.

— Meu carro não é a gás, mas até mesmo o gás está caro. O preço pesa um pouquinho no final do dia. A conta fica pesada. Estou trabalhando mais para conseguir bater a meta diária por causa do aumento no combustível. Eu trabalho de oito a nove horas por dia, mas com esse aumento vou ter que trabalhar dez horas. Estou indo menos no mercado. Reduzindo um pouquinho as saídas, o lazer, para pagar as contas. Primeiro, a gente paga as contas — conta Martins.

Do lado dos passageiros, a advogada Bárbara Vasconcelos diz que por enquanto não houve repasse, mas que está esperando por um aumento próximo. E que por enquanto está compensando mais usar aplicativos do que  o carro particular.

— Embora em algumas situações eu tenha prefiro ir com o carro, especialmente porque os estacionamentos, alguns, reduziram o valor da cobrança. Além disso, tem o tempo de espera por um carro — avalia ela.

Além dos motoristas autônomos que fazem o transporte de passageiros, os motofretistas e os trabalhadores que utilizam motocicletas para fazer entregas e encomendas no Rio também têm sofrido com o avanço do preço da gasolina. No caso deles, a conversão para o GNV não é possível, e eles precisam arcar com o aumento de custos.

Motofretista há 20 anos, Edgar Francisco da Silva, presidente da Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil (AMABR), revela que quem trabalha com entregas não está mais conseguindo absorver os aumentos. Segundo ele, o impacto varia de 30% a 45% sobre o faturamento dos trabalhadores, dependendo do que a pessoa entrega, se é e-commerce, delivery, administrativo e compra de mercado.

— Se a pessoa roda mais, será mais prejudicado. A gente não aguenta mais absorver os custos. Antes (há um ano), o motofretista gastava R$ 484 por mês. Agora, gasta no mínimo R$ 834 por mês — calcula Edgar. 

Fonte Extra

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