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domingo, 18 de agosto de 2019

Laje do Muriaé é o único município do Rio sem roubos nem homicídios neste ano

Quando a reportagem do EXTRA chegou à porta da delegacia de Laje do Muriaé, na última quarta-feira, encontrou o delegado titular, Gesner Cesar Bruno, preso do lado de fora do prédio. O único agente de plantão havia saído para uma diligência e levou consigo a chave disponível. A cena simboliza a tranquilidade com a qual policiais atuam no município do Noroeste Fluminense, que tem os menores índices de violência no estado. No primeiro semestre deste ano, não houve caso algum de roubo, homicídio ou estupro. E desde 2003, quando iniciou-se a série histórica do Instituto de Segurança Pública (ISP), a cidade teve registrados 30 roubos e nove homicídios.
— Tem nem muito o que falar, não tem crime aqui — resumiu o delegado.

Laje do Muriaé nasceu em 1962, quando emancipou-se de Itaperuna, e se caracteriza por ser um lugar pacato, com reduzidas atividades econômicas. Na falta de indústrias relevantes, a geração de emprego depende da máquina da prefeitura, e grande parte dos 7.386 moradores, segundo última projeção do IBGE — a prefeitura estima cerca de 9 mil — vive na zona rural. O maior atrativo turístico é uma igreja de estilo gótico, administrada pelo padre Gervásio, famoso por seu serviços como exorcista.
Existem cinco unidades escolares, três postos de saúde e um hospital. Pelas ruas, circulam 16 agentes da Guarda Municipal. Segundo a Polícia Militar, o 29º BPM (Itaperuna), que atua na área, recebeu reforço de oito viaturas neste ano, o que aumentou a patrulha no município. Na delegacia, trabalham cinco agentes, além do delegado, titular ainda da unidade de Miracema, que demanda maior tempo de sua atenção.
— Aqui não é uma cidade rica, então não atrai gente de fora. A população é tranquila. A maior dificuldade são os furtos na zona rural, de bomba, cabo, e às vezes de bichos — explica Cesar Bruno.
Foram 20 furtos no primeiro semestre do ano, de objetos como botijões de gás, carroça, celular e bicicleta. Como comparação, no primeiro semestre de 2019 na área da Lapa, Paquetá e parte do Centro do Rio, com população de cerca de 15 mil pessoas, foram 1.117 roubos e sete homicídios. Neste ano, Laje do Muriaé é, até aqui, o único município do estado zerado em roubo, estupro e homicídio. Outras cidades com índices próximos são Miracema, sem roubos, e Engenheiro Paulo de Frontin, ao lado de outras sete, sem homicídios.
Casas abertas
Kaysa de Paula, de 17 anos, estuda no Ciep da cidade. Ela lembra que, no período em que morou no Morro do Cruzeiro, lá mesmo em Muriaé, pessoas de fora se assustavam com a possibilidade de ela viver em local violento.
— Era super tranquilo, a gente vivia com a casa aberta, nunca vi um roubo — diz Kaysa, que quer cursar Pedagogia em outra cidade: — Gosto daqui, mas é muito parado.
Nascido e criado em Muriaé, Manoel Fonseca Santos, o seu Deco, consegue, com muito esforço, se recordar de um roubo na cidade.
— Há muito tempo lembro que roubaram boiada. Foi a única vez — diz Seu Deco, de 88 anos, dono de um sítio com criação de gado.
Padre exorcista
Na paisagem da cidade, chama a atenção a Igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso, de estilo gótico. A casa foi criada pelo padre Gervásio, há 30 anos, mas, como uma típica obra de igreja, ainda não está pronta. Além da arquitetura do lugar, outra atração é o próprio padre, que “presta serviços” como exorcista há 41 anos.
— Atendo cerca de 15 pessoas por dia, vem gente de vários estados. Às vezes o caso é pertinente, às vezes não — disse o padre, que não quis dar muitos detalhes de como funciona o exorcismo: — Aqui a população é humilde, generosa, ajuda muito. Esperamos que a cidade continue sempre em paz.
Na cidade, um assunto que gera bafafá é a política. No ano passado, o então prefeito Dr. Rivelino (PP) foi condenado e cassado do cargo pelo TRE-RJ por compra de votos e abuso de poder político nas eleições de 2016. Nas eleições suplementares, em outubro passado, o vencedor foi José Eliezer (MDB ), que está em seu quinto mandato.
— A nossa maior dificuldade é a geração de empregos. Até pela distância para a capital, é difícil trazer indústrias — disse Eliezer, que, por outro lado, se gaba por ter conseguido atrair quatro indústrias para a região, de vidraçaria a cosméticos: — Perto de Muriaé tem cidades violentas maiores, mas o crime não chega aqui. Minha primeira eleição foi em 1988, e desde então o município não mudou muito. Já a política é bem movimentada...
Fonte Jornal EXTRA / Lucas Altino

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