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segunda-feira, 29 de outubro de 2018

De Azarão a governador do Rio,votos do interior do estado elegem Juiz

Eleito com folga, Witzel pretende ter ‘integração muito forte’ com Bolsonaro na segurança para o Brasil.








Uma das maiores surpresas do primeiro turno das eleições, quando saiu de 1% das intenções de voto nas pesquisas iniciais para terminar na liderança, com 41,28% da preferência do eleitorado, Wilson Witzel (PSC) foi eleito ontem governador do Rio de Janeiro, derrotando o ex-prefeito da capital Eduardo Paes (DEM) com folga. O ex-juiz federal confirmou seu favoritismo no segundo turno ao obter 4.675.355 (59,87%) de votos, contra 3.134.400 (40,13%) do adversário.
Na primeira aparição após ter a vitória confirmada, o futuro ocupante do Palácio Guanabara fez questão de deixar clara sua ligação com o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). A sala em que Witzel discursou tinha um enorme cartaz com fotos dele, do capitão reformado e de Flávio Bolsonaro, eleito senador pelo PSL no Rio.




— Quero manifestar minha gratidão a um jovem senador (Flávio) que, contra até mesmo o “zero um” (em referência a Jair Bolsonaro, que se manteve neutro na eleição para o governo do Rio), numa caminhada em Nova Iguaçu, me deu a mão, olhou para mim e falou: “Salva o Rio, Wilson”. Foi naquela união de mãos, que vai passar para a História, que dois sonhadores se uniram. Foi o suficiente — discursou o governador eleito, que pretende desenvolver um trabalho em conjunto com o futuro presidente da República na Segurança Pública. — Precisamos ter uma integração muito forte nessa área. Quero conversar com ele (Jair Bolsonaro) sobre o apoio que posso ter na Segurança Pública. O Exército tem mais de mil homens ajudando no patrulhamento, pretendo conversar sobre o que posso continuar tendo.
Witzel também anunciou que irá rever o Regime de Recuperação Fiscal que o estado assinou com a União:
— O Regime de Recuperação Fiscal exige aumento de imposto, demissão de servidores e outras medidas cujas metas são difíceis de serem cumpridas, além de colocar a Cedae como garantia. Vamos buscar rever as dívidas feitas nesses últimos anos.
Promessa para São Judas Tadeu
Ontem, depois de votar acompanhado da esposa e dos três filhos mais novos, no Grajaú, bairro da Zona Norte onde mora, Wilson Witzel foi à Igreja de São Judas Tadeu, no Cosme Velho, na Zona Sul do Rio, para acompanhar uma missa em louvor ao santo das causas impossíveis, cujo dia foi celebrado neste domingo. Depois, ele se encontrou brevemente com o Arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta.
Na saída da igreja, o ex-juiz afirmou ter feito uma promessa a São Judas Tadeu:
— Promessa por um bom governo. Porque está difícil — disse Witzel, horas antes de confirmar a vitória nas urnas.
Wilson Witzel, de 50 anos, começou na magistratura em 2001, na 8ª Vara Federal Criminal do Rio. Ele também atuou como juiz em varas criminais e fiscais no Espírito Santo e em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, até deixar o cargo, no início deste ano, para estrear na política nesta eleição.
Nascido em Jundiaí (SP), o ex-juiz foi fuzileiro naval antes de seguir carreira jurídica. O agora governador eleito do Rio começou a articular sua candidatura em 2015, quando procurou o ex-governador Sérgio Cabral Filho (MDB) — preso desde novembro de 2016 por corrupção — em busca de apoio para seu ingresso na política.
Nome para a Fazenda
Casado com a advogada Helena Witzel, mãe de três dos seus quatro filhos, o governador eleito do Rio já anunciou que a primeira-dama será responsável por comandar o programa Rio Solidário e assuntos relacionados à assistência social. O restante da equipe ainda será definido.
— Vou me reunir com a equipe técnica e definir, na transição, metas mais concretas. A Secretaria de Fazenda é o nome que estou mais preocupado para definir — afirmou o futuro governador do Rio, que tomará posse no dia 1º de janeiro de 2019.
Wilson Witzel disse que estará hoje, às 7h, na Central do Brasil, para agradecer os eleitores. Depois, ele seguirá para a sede do seu partido, o PSC, onde participará de reuniões.
Depois de um segundo turno marcado por ataques entre os candidatos a governador, Witzel disse ter conversado em tom amistoso com Paes, por telefone, após a apuração:
— Recebi a ligação do Eduardo Paes, agradeci e o parabenizei por ter participado do processo democrático. O antagonismo que temos precisa se transformar agora numa união a favor do Estado do Rio. O trabalho é árduo e vamos precisar da ajuda de todos. O Eduardo Paes teve uma votação que tem que ser respeitada.
Pezão: ‘Desejo êxito’
O governador Luiz Fernando Pezão (MDB) divulgou uma nota, através de sua assessoria de imprensa, cumprimentando Wilson Witzel, assim que a vitória de seu sucessor foi oficializada. No texto, ele coloca a equipe à disposição para dar início à transição do governo.
“Cumprimento os cidadãos fluminenses pela demonstração de apreço à democracia e a escolha, nas urnas, do governador eleito do Estado do Rio de Janeiro. Cumprimento também o governador eleito, Wilson Witzel, desejando sucesso. Que ele, com muita determinação, possa cumprir a importante missão que tem pela frente, de trabalhar pelo desenvolvimento do estado e a melhoria da qualidade de vida da nossa população. Todas as equipes do meu governo estão à disposição para realizar uma gestão de transição. Desejo ao governador eleito pleno êxito e realizações nessa importante caminhada”, dizia a nota oficial assinada por Pezão.

Como Marcelo Crivella (PRB), em 2016, o próximo governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), também teve pouquíssimos correligionários eleitos para o parlamento estadual — apenas Márcio Pacheco e Chiquinho da Mangueira.
Da mesma forma que o prefeito do Rio, o novo governador terá que formar maioria com a ajuda de partidos aliados, como o PSL.
Mas, ainda que fique nas mãos dos 13 seguidores de Jair e Flávio Bolsonaro, estará longe de conseguir a maioria dos 70 deputados que compõem a Assembleia.
Vai precisar ainda atrair deputados de outras legendas para as hostes governistas.
E isso é tão velho quanto a mais velha política.

Sem provas

Em busca da maioria, a turma de Witzel apoia a candidatura de André Corrêa (DEM) para a presidência da Assembleia.
Mesmo que precise passar por cima da delação de Carlos Miranda, operador de Sérgio Cabral — que afirmou ter pagado ao moço uma mesada de R$ 100 mil.
Para os aliados do ex-juiz, não há provas: a delação, que valeu na campanha, já não vale mais.

Em números

A maioria simples, com 36 deputados, não resolverá o problema de Wilson Witzel (PSC).
Para aprovar um projeto de lei complementar, por exemplo, são necessários 42 votos.
Já para abrir uma CPI bastam 24 assinaturas...

Primeiro desafio

E o moço já terá que começar conversando com a atual formação da Alerj. Os nobres que hoje habitam o Palácio Tiradentes precisam aprovar a prorrogação do Fundo Estadual de Combate à Pobreza.
Senão, o déficit previsto para o ano que vem pula de R$ 8 bilhões para R$ 13 bilhões.


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