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sexta-feira, 29 de abril de 2016

Denúncia de pedofilia desespera pais

Há suspeita de aliciamento em outras escolas. Pai chora ao reconhecer filha vítima nas fotografias

MARLOS BITTENCOURT









Rio - A mudança de comportamento do filho de 2 anos e 9 meses levou um casal à Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (Dcav) ontem. Segundo a mulher, a criança de repente passou a pedir aos pais para tirar fotos de seu pênis e perguntar se estava grande, segurando um telefone celular. A princípio, ela não se preocupou com o comportamento diferente de seu pequeno. Mas levou um susto ao ver reportagem sobre a prisão de uma professora da creche de seu filho e um advogado acusados de pedofilia.

Como ela, outros pais que identificaram filhos em fotografias do acusado foram à delegacia denunciar. Ontem surgiram informações de que a dupla aliciava alunos de outras escolas.
“Quando vi que a mulher acusada era professora da creche do meu filho associei o comportamento dele ao caso. Na mesma hora perguntei: ‘Filho, a tia fez foto do seu lulu?’ Ele me respondeu que sim”, afirmou a mãe do menino. “Vou tirar meu filho da creche”, emendou ela, que paga R$ 130 por mês.
A delegada Cristiana Bento, titular da Dcav, disse estar montando um enorme quebra-cabeças para desvendar o caso, que chegou a ela por meio de denúncia anônima. “Parece que estamos diante de uma grande rede de pedófilos. A professora ficava amiga das mães para ganhar a confiança delas e ter acesso às crianças para entregá-las ao advogado”, afirmou a delegada, referindo-se a Roberto Malvar Paz, 63 anos, preso em Bangu e acusado de ser cúmplice da professora no esquema de pedofilia.

Indício de uma grande rede 
A Dcav mobilizou 12 agentes para o caso. Até mesmo policiais acostumados a lidar com assuntos de pedofilia se revoltaram com o material apreendido. Dois HDs externos de computador cheios de fotografias com crianças de até 8 anos em cenas de sexo e dezenas de calcinhas infantis foram encontrados com Roberto Malvar Paz.
Os policiais da Dcav continuarão as diligências para tentar chegar a outros envolvidos com a suposta quadrilha. Até ontem à noite a professora continuava presa. Os policiais acham que ela tem mais a falar.
“Vamos tentar tirar mais informações dela porque há um forte indício de que estamos lidando com uma rede especializada em pedofilia”, disse um policial.
O ex-marido da acusada também esteve ontem na delegacia porque há a suspeita de que a filha dele, ex-enteada da presa, teria sido vítima de pedofilia. Na época, a menina, hoje com 17 anos, tinha 9 anos. O pai estava transtornado e chorava muito numa sala da delegacia, segundo os agentes que atuam no caso.
Ele não teve nem coragem de ver as fotos de sua filha, tiradas pela professora, com o advogado Roberto Malvar Paz. No dia da prisão, quarta-feira à noite, ele disse que a sua ex-mulher era um monstro e que odeia crianças.
Advogado contesta a prisão

O advogado Francisco Ortigão, contratado para defender Roberto Malvar Paz, esteve no Fórum no fim da tarde de ontem para contestar a prisão preventiva do acusado. Segundo ele, a polícia tinha um mandado de prisão temporária, que vale por 60 dias, e não podia prendê-lo preventivamente, por tempo indeterminado.
“Quando nos deparamos com um acusado de crimes que nos chocam, temos a tendência de muitas vezes bestializá-lo ou de acreditarmos que se trata de alguém mentalmente incapaz. A polícia exerce um trabalho fundamental, mas também comete erros. Por isso, antes de tudo, é preciso lembrar da presunção de inocência, que vale para todos os cidadãos e garante nossa liberdade, até que se prove algum crime contra nós”, explicou Ortigão.
O advogado disse que o caso requer muito cuidado para não haver qualquer tipo de injustiça e açodamento nas decisões a serem todas daqui para a frente.
“Para se minimizar as chances de injustiças, esse julgamento demanda todo um processo legal, que só começa após o inquérito policial. Ou seja, este caso ainda está muito no início e devemos analisá-lo com serenidade, aguardando a decisão final da Justiça”, afirmou o criminalista Francisco Ortigão.
Dona da creche diz não ter culpa pela contratação da mulher acusada

Dona da creche em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, onde a professora acusada de aliciar crianças trabalhava, estava desesperada com a repercussão do caso. Chorando muito, ela disse que não tem culpa por ter contratado a mulher acusada de pedofilia.
A dona da creche disse ter contratado a professora para retribuir um favor que os pais dela lhe fizeram quando era criança. “Eles cuidaram de mim e da minha família quando a nossa casa foi a leilão. Quis retribuir a gratidão e aconteceu essa desgraça. Uma das meninas que aparecem na foto, inclusive, é minha sobrinha, de 4 anos. Aquela mulher tirou foto dela no Dia do Índio (19 de abril) quando as crianças trocavam de roupa para uma apresentação na escola. Não aconteceu na minha creche, foi num hotel”, desesperou-se a mulher sobre imagens horrendas de sexo entre crianças e o advogado Roberto Malvar Paz, 63 anos, também acusado pela polícia de integrar um esquema de pedofilia.
A creche de Caxias funcionou ontem para as 25 crianças que frequentam o estabelecimento. Há pais afirmando que vão tirar os filhos da creche. Por outro lado, a dona da creche contou que outros pais e parentes de alunos prestaram solidarieade a ela.
Uma mulher de 56 anos, avó de um menino de 3 anos que frequenta a creche é uma das que estão dando apoio. Ela afirmou que o garoto continuará indo à escola e que confia na empresária. “Meu neto não sairá, ele gosta de lá. Nos conhecemos e sei que ela não tem nada a ver com aquela mulher que se vestiu de cordeiro para molestar as crianças. Ela tem de pagar pelo que fez, que fique presa”, afirmou a avó da criança. A creche onde a acusada trabalhava funciona há oito anos no mesmo endereço. A funcionária pode já ter trabalhado em outras escolas.

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