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domingo, 21 de fevereiro de 2016

Cientistas enfrentam rotinas agitadas para encontrar cura da dengue



Só em 2015, o mosquito aedes aegypti infectou 73.872 pessoas no Brasil
Aos 17 anos, Rafaela Bruno tinha o sonho de fazer bebês de proveta. Optou por cursar Biologia na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), onde escutou a sentença do professor: “O mais próximo que vai conseguir fazer é bebê de mosca.” Passados 20 anos, atua como coordenadora do laboratório de Biologia Molecular da Fiocruz, em Manguinhos, realizando mutações em insetos, principalmente no Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya. “Sou a moça da agulha, aquela que infecta os mosquitos”, brinca.
Rafaela, assim como outros pesquisadores, enfrenta rotinas agitadas, anos de estudo e até perigos para investigar as doenças causadas por um inseto que só em 2015 infectou 73.872 pessoas no Brasil com dengue. Eles formam uma tropa de choque contra o mosquito que amedronta todo o país.
Cientista está prestes a descobrir se alguém que teve zika pode ser reinfectado
Para reunir os diferentes estudos, no início do ano, Fernando Bozza fez um site com pesquisadores internacionais para debater a zika. “Todos estão muito otimistas com os estudos. Há pesquisas que serão concluídas em breve. Trabalho em uma que vai confirmar ou não se uma pessoa que já teve zika pode ser infectada novamente.”
O médico Carlos Brito, de 47 anos, da Universidade Federal de Pernambuco, não recebeu o mesmo otimismo da comunidade científica ao dizer, pela primeira vez, que a zika provocava a microcefalia. “Alguns me chamaram de leviano, precipitado, cientista maluco. Sou até hoje uma ‘persona non grata’ em alguns meios. Mas a hipótese se confirmou e ainda falta muito para estudar”, afirma.
Casado com uma pediatra e pai de três filhas, disse que a ciência não endureceu seu coração. “Chorei muito quando vi as mães segurando filhos com microcefalia, assustadas. Foi um dos piores momentos que enfrentei, assim como o surto da cólera, em 1993.” Recém-formado, Brito coordenou uma unidade intensiva de tratamento com 60 pacientes infectados.
Rafael Freitas, 34, já coordena um dos principais estudos na área. Com uma equipe do Laboratório de Transmissões de Hematozoários da Fiocruz, começou neste ano um projeto pioneiro no Brasil: espalhar a bactéria wolbachia para reduzir o tempo de vida do mosquito.
“O método é desenvolvido na Austrália, Indonésia, Colômbia e Vietnã. Espalhamos em dois bairros do Rio e, em breve, vamos confirmar a redução do mosquito nas regiões.” A ação consiste em infectar mosquitos com essa bactéria. Durante a cópula, ela é transmitida e torna as fêmeas estéreis.
Em 2012, teve sua tese de doutorado premiada pelo Capes, o maior prêmio da área no Brasil para pesquisas. “Investiguei como o mosquito reage infectado e em diferentes temperaturas. Ele sofre também com a doença, come menos, voa menos. É doloroso para o mosquito também.”
No trabalho, Rafael costuma escutar rock e samba para se concentrar e infectar os mosquitos com a bactéria. Mas diz que o maior trabalho deve ser da população. “Acredito que um dia todos tenham a real consciência da transmissão do mosquito e não deixem água parada. Se todos fizerem isso, as epidemias cessam.”
Reportagem Bruna Fantti

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