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domingo, 24 de fevereiro de 2013

Sexo na Internet domina 'mapa do pecado' no Rio


Padres de regiões diferentes do Rio revelam que as relações virtuais e o uso de pornografia pela web são as maiores novidades nas confissões de fiéis em toda a cidade

POR Hilka Telles

Rio - Quem nunca teve curiosidade de descobrir o que se fala nos confessionários que atire a primeira pedra. Para saciar essa sede de saber da vida alheia, O DIA entrevistou padres de várias regiões do Rio de Janeiro e constatou que o sexo virtual e o uso de pornografia pela web são os ‘pecados’ da atualidade e igualam o carioca da Zona Sul mais abastada à Zona Oeste menos favorecida.

O desabafo sobre relações familiares difíceis ainda é a maior aflição de quem ajoelha para confessar — de cada dez fiéis, oito falam sobre esse tema. Mas sexo com ajuda do computador aponta para uma significativa mudança de comportamento na sociedade: domina praticamente as confissões restantes, sem fazer distinção de gênero, faixa etária e condição econômica dos ‘pecadores’ confessos.

 

 

Infidelidade, relações sexuais antes do casamento e masturbação, três atitudes condenáveis à luz da Igreja, são os ‘pecados’ que deslizam na esteira do sexo via internet e os mais relatados pelos penitentes. Na Zona Oeste de classes média e baixa, mulheres na faixa etária dos 26 aos 40 anos têm largado os maridos depois de conhecerem outro em salas de bate-papo na web. “Muitas vieram ao confessionário e desabafaram sobre problemas conjugais. Depois, revelaram ter se encantado por outro homem, pela internet. Por fim, trocaram o casamento por essa nova conquista”, descreve o padre de uma igreja local.

Já os homens dessa parte da Zona Oeste, com idade entre 30 e 40 anos, não usam muito o computador para essa finalidade. “Esses são os que mais confessam infidelidades, mas não é virtual. Têm amante mesmo, no mundo real”, acentua o religioso.

Segundo ele, dois outros assuntos permeiam as confissões femininas, dos 20 aos 45 anos: problemas matrimoniais, porque os maridos fazem uso em demasia de bebidas alcoólicas, e filhos usuários de drogas.

Maioria mulher

A mulher ainda é o maior público na maioria dos confessionários. “Elas são mais sensíveis ao aspecto religioso”, analisa o padre de uma igreja da Zona Norte de classes média e alta. Mas, em outra igreja na mesma Zona Norte, num bairro cortado pelos trilhos da Central do Brasil, onde os moradores são de classe média e baixa, o pároco afirma que, de dois anos para cá, aumentou o número de homens que buscam o conforto espiritual da confissão. “Agora está meio a meio (homens e mulheres). Esse novo público tem mais de 40 anos e vem falar de filhos adolescentes sobre os quais perderam o controle”, assinala o padre.

Na Zona Sul, homens pedem ajuda para resistir à tentação

No lado da Zona Sul muito abastado, os moradores não têm uma relação íntima com o confessionário. Mas, dos homens maduros que se confessam, segundo o padre, quase a unanimidade diz que frequenta sites de pornografia.

“Ou já estão frequentando sites de pornografia ou estão prestes a entrar neles. Pedem aconselhamento para resistir à tentação”, comenta um religioso da área, onde a renda per capita está entre as maiores do país.

O perfil dos homens fiéis é outro. Eles gostam de frequentar a missa aos domingos, de serem vistos por todos com as suas famílias. Querem fazer parte da comunidade religiosa do bairro. No caso das mulheres, a confissão tem caráter de desabafo. “Elas falam sobre tristezas em relação a filhos que estão com o casamento na corda bamba ou já em fase de separação”, conta o padre.

Dívidas também não são assunto naquelas bandas, mas é tema bastante confidenciado aos padres nas outras regiões. O cartão de crédito é o grande vilão. Por causa das dívidas, há muitos casamentos abalados, segundo párocos de igrejas da Zona Oeste e da Zona Norte.

Pano de fundo é solidão e falta de relacionamento estável

Em igreja da Zona Norte, na área da Central do Brasil, assuntos sobre sexo também têm quórum, seja no plano virtual ou real.

“O pano de fundo é a solidão interior. Os rapazes, por exemplo, não têm um objetivo. Para preencherem esse vazio, se aproximam de superficialidades, de relacionamentos momentâneos. Tudo para não ficarem sozinhos. Em função do vazio causado pelos desencontros, descarregam tudo na sexualidade. Já as moças reclamam que não conseguem um relacionamento estável e, a partir disso, passam a namorar muito. Para mim é um desafio. Como fazê-los ter novos valores, para não centralizarem a vida apenas na sexualidade?”, pergunta-se o padre.

Na Zona Norte abastada, os ouvidos do pároco detectaram que as relações interpessoais representam a maior parte das confissões, mas a questão do sexo virtual está logo abaixo no ranking dos ‘pecados’.

“A maioria deles, com idade entre 17 e 25 anos, vem aqui para falar sobre sexo. Eles têm dúvidas se estão em pecado ou não. Nos casos de homens adultos, casados, há uma fatia considerável que frequenta sites de pornografia e se masturba. Eles consideram pecado. Percebo que há um número significativo de dependência de sexo virtual entre homens adultos, que não têm coragem de praticar o ato real e o fazem virtualmente. Coisas do mundo contemporâneo”, observa o religioso.

Jovens se sentem culpados após sexo

Excetuando os jovens da Zona Sul, que nem cogitam a possibilidade de sexo antes do casamento ser ‘pecado’ e preferem as areias das praias ao confessionário, nas outras paróquias visitadas pelo DIA a garotada está aflita sobre essa questão.

“Dos jovens que me pedem aconselhamento, a maioria é do sexo masculino. De cada dez, sete confessam pecados sobre sexo. O que mais dizem é que tentaram evitar o ato carnal, mas não conseguiram. Às vezes, vem o casal de namorados. Um entra, se confessa. Depois, entra o outro. São os mesmos pecados sobre sexo”, diz um padre da Zona Norte.

O tema sexual, para adolescentes na Zona Oeste, tem outro viés. “Quando elas têm a primeira experiência, muitas vezes não confessam. Mas se aquele namoro terminar, tentarão outros relacionamentos. É nesse ponto que nos procuram. Elas se veem como pecadoras. Por ter tido mais de um parceiro, entendem que estão entrando no terreno minado da promiscuidade”, diz o padre.

A propósito: quem participar da Jornada Mundial da Juventude, em julho, terá muitas chances de abrir suas confissões. Haverá nada menos que 600 confessionários móveis disponíveis na cidade.

Rapazes ficam constrangidos. Moças são espontâneas

“Os jovens da igreja da Zona Oeste, quando se confessam, falam sobre pornografia virtual, masturbação e iniciação sexual”, relata um padre. Num bairro da Zona Norte da área da Leopoldina, o pároco também diz que o sexo permeia as confissões masculinas, dos 17 aos 40 anos. “A maioria dos adolescentes revela na confissão que já teve iniciação sexual, mas fica constrangida, contrita. Já as meninas falam abertamente, com naturalidade. Os homens casados confessam gostar de pornografia pela internet e infidelidade virtual”, afirma o religioso.

Naquela paróquia, as mulheres não citam quase a questão de infidelidade, real ou virtual. Porém, reclamam de problemas matrimoniais. Dizem que o casamento esfriou com a rotina e que os maridos se dedicam muito ao trabalho e pouco a elas e aos filhos.

“Os homens se sentem bons pais e maridos só porque não deixam faltar nada em casa, e se queixam de não receberem a atenção devida”, ressalta o padre. Acima dos 40 anos, tanto homens quanto mulheres usam o confessionário para desabafar, contando problemas dos filhos.

 

 



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